Cerca de 80% da sua área está queimada. São 9 mil hectares. A Mata Nacional tem (tinha) 8.400m de largura, 18.700m de comprimento, perfazendo 11.029 hectares divididos em 342 talhões, e ocupando 61% do concelho da Marinha Grande.
Em 1910, com a implantação da República, a sua denominação oficial mudou de Pinhal do Rei para Mata Nacional. A sua origem está fortemente associada ao rei D. Dinis, mas admite-se que o Pinhal fora mandado semear ainda nos reinados de D. Sancho I e II entre 1185 e 1247. No entanto, foi, de facto, o rei D. Dinis quem lhe deu a maior propulsão com o intuito de travar o avanço das areias para a bacia do Lis.
A Mata Nacional tinha, pelo menos, entre 700 e 800 anos de existência. Da sua madeira foram feitas as naus dos Descobrimentos e uma pujante actividade ligada à resina (pez) no século XVIII. Da sua existência, madeira e areia, nasceu a indústria vidreira.
Segundo Gabriel Roldão (2015), em 1747 o irlandês John Beare transferiu a Real Fábrica de Vidro de Coima (Lisboa) para a Marinha Grande e, no ano seguinte, iniciou a actividade. Ou seja, o vidro entrou na Marinha Grande, no coração da Mata Nacional, há 270 anos.
[LER_MAIS] De acordo com Nuno Gomes (2015), em 1924 Aires Roque, serralheiro da Nacional Fábrica de Vidros da Marinha Grande, propõe ao administrador da empresa, o engenheiro Calazans Duarte, a fabricação de moldes de aço para o vidro na Marinha Grande.
Em 1936, Aires Roque, junto com o seu irmão, Aníbal Abrantes, começa o fabrico de moldes para plásticos (baquelite). E, em 1957, a Aníbal H. Abrantes faz o primeiro molde para exportação. Segundo Maria Callapez (2000), nos anos 30, devido a campanha contra o pé descalço nas populações pobres, surge na Marinha Grande a empresa Nobre & Silva (os irmãos Nobre Marques e José Lúcio da Silva) para o fabrico de alpercatas com sola de borracha e que em 1936 dá início a produção de artigos em baquelite, contratando os serviços de moldes aos irmãos Aires Roque e Aníbal Abrantes.
Ou seja: a coluna vertebral da indústria da Marinha Grande – vidro, moldes e plásticos – tem o seu coração histórico na Mata Nacional. Que está agora morta por incúria do Estado. A Mata Nacional não era apenas um conjunto de árvores. Era o repositório vivo da história socioeconómica da Marinha Grande. E está tudo ardido. É um crime patrimonial.
*Docente do IPLeiria