A gosma duma coisa parecida com amor que nunca sai das mãos nem com lixa, nem com psicologia. O apego apega-se quando estás a pedir um café pela última vez. Não nesse momento. Logo a seguir.
O apego é o fim da inteligência. É o medo da morte, o final da noite, o descoberto e irrepetível. O apego é saber que hoje foi muito bom e não confiar em amanhã. É querer-te mais do que foste, é balizar o tempo, congelar.
O apego é o fim. É repetir insanamente uma piada e rir outra vez com vontade de rir outra vez. O apego é a vida parar e é gostar muito de ti com ganas de te abraçar sempre da mesma maneira.
O apego é querer que não existas amanhã porque é impossível seres melhor do que hoje. O apego é falta de respeito, inútil, cabrão, saudosista, cancerígeno, irrigado, gozão, hormonal. É ires embora quando te fores embora, só que hoje.
É querer-te sempre assim, é egoísmo, infantil, birrento, fútil. É construir uma vida de hojes, é um vão, é um anda cá da mesma maneira que vieste, é diz isso outra vez, é fingir. É o Peter Pan, o Highlander, o orgasmo dum porco.
[LER_MAIS] Não é só, (ou) não é bem medo de amanhã, é medo que hoje comece a ser amanhã sem luto. O apego casa pessoas num instante, naquele instante. O apego é obsessivo, compulsivo e ritualista na sua casca dura inventada por cegueira auto-induzida.
O apego é corcunda e mentiroso. É pessimismo. É desvirginar para sempre. O apego é ó tempo volta pra trás, dá-me tudo o que eu perdi.
É matar porcos da beira baixa para as morcelas saberem às da minha avó, o apego são receitas escritas à máquina e operações plásticas ao pescoço.
Seco, estéril, com a mania dos hábitos e tiques, é superstição, é fazer férias em Armação de Pêra há 20 anos, comprar casa, nunca abrir o Barca Velha que o teu pai te deixou e é no meu tempo é que era. Uma maçada.
O desapego é amar-te mesmo depois de te apanhar a rir com o Nilton.
*Músico