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No passado sábado tive a grande alegria de tocar na Meo Arena com os Moonspell, enquanto atração principal. Foi excelente, embora com algumas imperfeições de uma banda que está mais habituada a clubes arenas e que vem do underground musical, e não se quer comprometer, em demasia, com o mainstream.
Mas, serão coisas a melhorar, só possíveis depois da “primeira vez”.
É como fazer o amor: não se esquece, mas tenta-se melhorar.
Portanto, devia estar contente. E estou. Parto esta semana para Berlim, onde começo outra digressão Europeia. As coisas correm-me bem.
Porém, tenho um buraco no coração.
Pelas circunstâncias da morte de Odair Moniz; pelas condições de trabalho e remuneração miseráveis da nossa força policial; pela evidente delinquência que grassa em certos bairros da periferia de Lisboa; pelo racismo que se propaga na sociedade fruto de um infame aproveitamento político (da esquerda à direita passando pelo centro); pelas inqualificáveis publicações online de gente “comum” que papagueia líderes duvidosos e especialistas tudológos que intoxicam o espaço público.
Pelo ambiente clubista com que se vivem os conflitos: Team Israel, Team Hamas.
Resultado disto tudo: no equilíbrio onde deveríamos encontrar a tal da verdade, que está algures no meio da reflexão e ação perante todos os problemas sociais que enumerei e que levaram à morte violenta de uma pessoa está um grande buraco.
Ninguém se entende. Nem quer. Toda a gente se afunda no isolamento da sua “opinião”, da sua “convicção”; na solidão do seu direito a isto e aquilo, sem sequer quererem participar na solução seja qual for, brutos e felizes de termos um problema uns com os outros e com o quer que seja.
Incapazes de nos desviarmos do caminho e do chamamento do abismo, para ele caminhamos alegremente.
E cairemos no buraco, numa fenda bem maior do que a que tenho no coração.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990
