O “calvário” de António Palmeira para arranjar casa começou em Abril do ano passado, com um telefonema do senhorio a avisar que ia vender o apartamento, onde o artista plástico vivia há seis anos e que tinha de libertar até ao final de Agosto. Como “não podia comprar”, pôs-se no terreno à procura de um novo tecto. Seguiram-se meses de verdadeira angústia.
“Cheguei a pensar que ia dormir debaixo da ponte”, conta, à medida que vai desfiando os “disparates” que encontrou, tendo em conta o preço e as condições da habitação. Numa das situações pediram-lhe 400 euros por “uma espécie de garagem, que tinha sido limpa, com uma cozinha horrível e uma casa-de-banho a lembrar a das oficinas de automóveis. A parte de cima, tinha sido fecha- da e transformada também num T0, pelos mesmos 400 euros. O acesso à ‘casa’ de cima era feito pela ‘casa’ de baixo”, revela.
Noutro caso, António Palmeira visitou um apartamento na Estação, criado numa vivenda. A renda estava fixada em 350 euros. Mas o que à partida até parecia ser razoável, revelou-se uma “fraude”, porque “estava parcialmente destruído. Tinha bolor, rodapés despregados e canalizações partidas na cozinha”.
Seguiu-se uma casa rural, “com ar fofinho”, numa freguesia dos arredores de Leiria, por 500 euros por mês. “No quarto não cabia a minha cama de casal e batia com a cabeça nas ombreiras das portas, porque era tudo minúsculo.”
António Palmeira viu ainda mais dois apartamentos na rua Paulo VI, um deles por 600 euros, “muito frio, cheio de azulejo e sem vidros duplos”. O outro, “totalmente remodelado”, por 500 euros, e que, não fora o preço, seria o indicado. “Ainda pedi para baixar o valor, mas o senhorio, pelo que me disseram um emigrante cheio de dinheiro, recusou-se a arrendar, alegando que depois me sobrava pouco salário para viver o resto do mês.”
António Palmeira estava “sempre” atento aos sites de imobiliário e, mal caía um anúncio, ligava. Quando o atendiam, a mesma resposta: “já estava reservado”. Chegado a Julho e com o prazo a apertar, começou a “desesperar”. “Em Agosto, já não conseguia dormir”, assume o artista plástico, de 62 anos. Nessa ocasião, por intermédio de uma pessoa amiga, teve conhecimento de um apartamento que parecia ajustado. Mas, soube depois, havia um senão: o casal que aí vivia só ia libertar a casa dentro de um mês ou dois, tempo que António Palmeira não tinha.
Já na última quinzena de Agosto, recebeu um telefonema do ainda senhorio, a comunicar que, afinal, não ia vender, mas a renda passaria de 400 para 600 euros. “Tive de aceitar”, diz, resignado, confessando que, o que mais o chocou neste processo, foi “a frieza com que as pessoas pedem valores que são quase um ordenado mínimo por casas sem as condições mínimas”