Ainda que nada pareça indicar que o verão e as férias já terminaram, milhares de estudantes e professores estão já nas escolas dando início a um novo ano lectivo, cheios de boas intenções e vontade de levar a bom porto a tarefa do ensinoaprendizagem.
Que se deseja entusiasmante, motivadora, e útil, a par da necessária dose de trabalho para consolidação de saberes. E porque o ministério não se chama “do ensino-aprendizagem”, mas “da educação”, a aquisição de saberes deverá ser mais do que um complicado e trabalhoso acumular de conhecimentos, por importantes que se acredite que sejam para a prossecução de um plano de estudos e de uma formação profissional a curto, médio ou longo prazo.
Porque educar, do latim educare, significa “conduzir”, e deriva de ex, que significa “exterior”, e será portanto o processo de conduzir o aluno para fora de si próprio, levando-o a conhecer-se e a aprender o mundo.
Tal processo foi instaurado por Sócrates que o baptizou de maiêutica, a significar “dar à luz”, e se traduzia na condução dos seus alunos através de uma longa série de perguntas destinadas a demonstrar-lhes os erros de raciocínio e a pôr em causa os conhecimentos que estes julgavam ter, para que, com o burilar das respostas, pudessem depois construir um conhecimento verdadeiro; considerando que a verdade é algo latente em todos os seres humanos, que apenas necessitam de ser guiados para a saberem encontrar.
A esta arte de perguntar para construir conhecimento sucedeu a fórmula de diálogo de Platão, considerado o primeiro pedagogo – “aquele que conduz” – porque o primeiro a estabelecer uma filosofia da educação.
Platão declarou-a como uma dimensão [LER_MAIS] pedagógica essencial da filosofia e desenvolveu a sua dialética a partir da necessidade de depurar a naturalmente imediata e intuitiva primeira resposta a um problema ou à admiração causada por um mistério, transformando-a num conhecimento válido através de uma série de raciocínios entre essa ideia e o seu contraditório.
Muito depois, Kant irá dizer que a educação é o maior e o mais difícil problema colocado ao homem, sendo fundamental não encher as cabeças das crianças com as ideias dos outros, porque o importante é elas aprenderem a pensar.
E considerava que a educação de uma criança devia prepará-la, não para o mundo em que vivesse, mas para o mundo do seu futuro, já que da educação depende o aperfeiçoamento do homem e, portanto, da sociedade.
Dando um enorme salto no tempo, vemos a abordagem à educação passar de filosófica, a científica; de caminho de dentro para fora, a uma espécie de compêndio do funcionamento do mundo; de perguntar, a responder; de maravilhamento, a acumulação metódica; da procura de si, ao positivismo do seu funcionamento.
Sobrecarregados de conteúdos a que muito frequentemente falta o interesse intelectual, a ligação à vida real, a inquietação da existência, ou mesmo a necessidade prática, alunos e professores lutam contra a dificuldade de programas demasiado extensos para o tempo lectivo, para uns semeado de reuniões, para outros de avaliações, numa missão educativa tantas vezes desprovida do prazer maior do ensino e da aprendizagem.
Perguntar, descobrir, maravilhar, entender, relacionar, construir. Ao tempo de cada um, a seu tempo. Assim deveria ser.
*Professora de dança