Confesso que não era minha intenção voltar ao tema dos incêndios, mas de facto é inexplicável o que temos assistido este Verão em Portugal e que alguns queiram quase convencer-nos de que é uma situação normal e pouco haverá a fazer.
Ora, no relatório provisório de incêndios de incêndios florestais, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, conhecido esta semana, no período entre 1 de Janeiro e 31 de Agosto de 2017 registou-se um total de 12.377 ocorrências (2.652 incêndios florestais e 9.725 fogachos) que resultaram em 213.986 hectares de área ardida, entre povoamentos (115.187ha) e matos (98.799ha).
Comparando os valores de 2017 com o histórico dos 10 anos anteriores, assinala-se que se registou um número de ocorrências equivalente à média, mas mais 234% de área ardida do que a média anual para o mesmo período.
O ano de 2017 apresenta, até ao dia 31 de Agosto, o 5.º valor mais reduzido em número de ocorrências e o valor mais elevado de área ardida, desde 2007. Além deste cenário desolador, temos o registo das 65 mortes, coisa nunca vista em Portugal e sem alcance em país que se quer desenvolvido.
E se a dimensão desta calamidade foi observada com o início nos incêndios de 17 de Junho, o que se tornou assustador e incompreensível foi durante dias consecutivos vermos fogos a deflagrarem por todo o território nacional, com situações dramáticas para as populações.
E o que aconteceu até agora? Muita visita e passeio e pouca concretização no terreno e fraca resolução dos verdadeiros problemas, onde, veja-se, até os presidentes de Câmara de Castanheira de Pera, Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos vêm questionar o paradeiro dos donativos privados, que aliás num acto arrojado, na minha opinião, ficaram sob a gestão do Governo.
[LER_MAIS] Sim, porque falamos de donativos e apoios privados que, até nalguns casos, poderiam ter um fim ou objectivo específico e ficam assim diluídos na generalidade. É, portanto, neste cenário de nacional porreirismo, desporto que verdadeiramente abomino, que vamos convivendo com todas estas confusões, sem que alguém se digne explicar o que verdadeiramente tem acontecido um pouco por todo o País e quem são os responsáveis.
Como seria noutro tempo, não muito distante, quantas demissões não seriam necessárias? Esperemos que à chegada do Outono saibamos as razões e as conclusões dos relatórios e das comissões e se inicie o trabalho para o próximo ano, como por exemplo a reforma da floresta, que não pode ficar refém dos jogos político/partidários do Parlamento, ou a preparação de uma forte abordagem às medidas preventivas, que ainda são importantes implementar.
Sou presidente de uma Associação de Bombeiros Voluntários há quase 12 anos e não tolero demagogias e oportunismos baratos e fáceis sobre a nobre missão de voluntariado das bombeiras e bombeiros de Portugal, quer seja na discussão das refeições, quer nos valores miseráveis para as equipas de combate a incêndios ou agora na recente "tirada" de colocar os bombeiros a limpar a floresta.
Devo lembrar, para quem não sabe, que temos os sapadores florestais, onde bastará reforçar as equipas que estão no terreno. E já nem falo do que acontece à assumpção de algumas despesas pelas Associações Humanitárias, quando não estamos na época de Verão ou quando o risco não é elevado, que deveriam ser responsabilidade do Governo.
Isto sim, matérias que devem merecer a maior atenção e melhor resolução.
*Presidente da Câmara Municipal de Ansião