Vivemos num mundo globalizado sujeito a forças de pressão que levam à homogeneização cultural. Somos levados a adotar hábitos e modos de estar estranhos ao nosso contexto de origem, especialmente quando isso se conjuga com práticas e hábitos de consumo.
O nosso mundo tem-se liberalizado progressivamente, as comunicações e informação transitam tãofacilmente como capitais, bens e pessoas. Não será esta uniformização um perigo para a manutenção das tradições, das heranças culturais e, no geral, do património?
Se esta conjuntura representa uma ameaça ela pode igualmente ser uma oportunidade. Se vivemos na era da globalização também vivemos na era do individualismo, próprio da pós- modernidade.
[LER_MAIS] Este individualismo concorre com as forças de homogeneização que podem contribuir para a indiferenciação individual. Gera-se assim um paradoxo de forças concorrentes num mundo onde existe, especialmente nos países com melhores índices de desenvolvimento económico, uma considerável liberdade de escolha.
Isso tem permitido que a diferenciação cultural e o património possam desempenhar papeis importantes na construção identitária dos indivíduos. Se há algo distintivo de comunidade para comunidade, por todo o mundo, são os seus patrimónios culturais, materiais e imateriais.
Tal diferenciação, associada um fenómeno de bricolage cultural – em que cada indivíduo se pode reconstruir culturalmente com base na sua herança natal e quaisquer outras influências culturais que queira assumir -, pode ser muito importante para a sustentação psicológica dos indivíduos, estruturando-os num mundo de incertezas crescentes.
Não é por acaso que assistimos a revivalismos de toda a ordem. As produções de filmes e séries históricas abundam. A cultura de consumo de produtos vintage existe um pouco por todo o lado.
Voltámos ao disco em vinil. Apesar das tecnologias digitais os livros em papel teimam em não desaparecer. Até os jogos de tabuleiro voltaram. Os folclores são assumidos com orgulho.Assim, o património tem um potencial único, desde que assumido pelos indivíduos em liberdade, o que implica, obviamente, conhecimento de causa.
*Presidente do Centro de Património da Estremadura
Texto escrito de acordo com a nova ortografia