Por exemplo, o poeta e jornalista leiriense Acácio de Paiva interrogava-se no jornal O Século: “Serão os planos para diminuir os incêndios ao menos eficazes? Conseguir-se-á uma vigilância suficiente e permanente? Não se voltará, passada a impressão de catástrofe, à indiferença do costume?”
Estas interrogações poderiam ser de hoje [21/10], no dia em que o Governo se reúne extraordinariamente para decidir o que fazer com a maior série de fogos de que há memória em Portugal e lamentar um número de mortos mais próprio de uma guerra do que de tempo de paz. Uma oportunidade para o Primeiro Ministro retirar da gaveta as propostas que lhe foram entregues há dez anos, quando era ministro da Administração Interna.
Eu próprio lá estive com outros em representação da COTEC, associação que pagou o estudo que explicava com grande pormenor a forma de acabar com a tragédia dos fogos em Portugal. Mais vale tarde do que nunca, dirão.
Não sei, conhecendo o que a casa gasta, ajuizando pelas sucessivas apresentações aos jornalistas feitas ao longo do dia, receio que tenhamos principalmente mais comissões e mais notícias destinadas a acalmar os protestos.
Cada um faz bem principalmente aquilo que sabe fazer e o primeiro ministro sabe navegar com mestria por entre os interesses e as exigências dos seus apoiantes. Foi o que fez depois de Pedrogão Grande e não mudou durante quatro meses até ao domingo fatal.
[LER_MAIS] Esta manhã, no primeiro briefing do Governo, foi anunciada a criação de uma nova comissão, que terá um mês para apresentar o critério das indemnizações a pagar. Será preciso um mês para isso? Pessoalmente precisaria de apenas algumas horas e o critério seria muito simples: como o Estado não cumpriu a sua primeira obrigação perante os portugueses, que é defender as suas vidas, o Estado que pague.
Assim sendo, o Estado deve pagar integralmente todos os prejuízos e custos envolvidos, nomeadamente a reconstrução de casas, fábricas, maquinaria, infraestruturas, animais mortos, mata, pinhais, agricultura, salários, etc., a quem provar nas autarquias respectivas os seus prejuízos e apresentar os orçamentos para o efeito.
É muito dinheiro? Será, mas nada que se compare aos custos do BPN, BES, Caixa Geral de Depósitos, Banif, e às perdas das parcerias público/privadas, em que o Estado também foi apanhado a dormir e pagou. Melhor dito, os portugueses pagaram.
Ainda em 1916, a 4 de Setembro, segundo o Observador, a revista Ilustração Portuguesa publicou um texto de um senhor chamado Floreano, que escreveu: “Na fúria com que toda a gente se atirava ao fogo não havia visivelmente um plano de ataque, executando a uma voz imperiosa de comando; mas havia uma perícia e uma tática individuais que davam ao conjunto dos esforços uma unidade de acção. Abrem-se aceiros, compridos e largos…” Não tenho espaço para mais.
*Empresário