No início de Janeiro, o Facebook anunciou o arranque de mais um capítulo da guerra sem quartel aos (outros) media. Ao New York Times, Mark Zuckerberg revelou que estava prestes a mexer no feed de notícias, para colocar ênfase nas "interacções significativas" entre amigos e familiares.
A ideia é que o número de publicações de meios, como o Jornal de Leiria ou a VICE, que vêem no vosso feed, diminua significativamente. Os rumores de que o “apocalipse algorítmico” estava para vir circulavam há meses e a indústria tremeu.
Com grande parte do tráfego das publicações online gerado através do Facebook, não admira. Para muitos, poderá parecer que a reacção mais óbvia será a de pagar cada vez mais pela quantidade de audiência, deixando a qualidade ainda mais relegada para décimo nono plano, ou assim.
E certamente que, para outros tantos, se o caminho há muito era esse, a única coisa que muda é que terão, lá está, de pagar mais. Para alguns, no entanto, esta tentativa do Facebook de se armar em amiguinho do cidadão, sob a premissa populista de dar mais atenção às suas famílias e amigos – o que, na prática, significa fechar essas pessoas ainda mais sobre si próprias, sobre as suas opiniões e interesses e as daqueles que lhe são mais próximos, isto é, potencialmente mais favoráveis aos seus próprios pontos de vista -, pode ser uma oportunidade.
Como analisa um jornalista da Motherboard, plataforma da VICE dedicada à tecnologia, “o Facebook está a desprioritizar as nossas publicações?"
Boa! No longo prazo, isto é bom. Para todos nós. Primeiro, porque, pessoalmente, é um alívio. Espero que nem eu, nem qualquer outro jornalista, tenha de voltar a preocupar-me um segundo que seja com o feed do Facebook.
[LER_MAIS] Mais importante, o jornalismo engendrado para ser viral, para ser gostado, ou apanhado por um algoritmo, não é jornalismo, é marketing.
Um órgão de comunicação social cuja existência assenta somente num portal centralizado está sujeito aos caprichos desse portal. E uma sociedade que se limita a confiar num portal centralizado para se informar está, de muitas formas, tremendamente condenada”.
O JL, como a VICE, podem aparentemente estar nos antípodas um do outro enquanto meios de comunicação social. No entanto, “são muito mais as coisas que nos aproximam, do que as que nos dividem”.
E uma delas é simples: escrevemos histórias que nos interessam e as pessoas lêem-nas porque também se interessam por elas. Servimos os leitores, seja no papel, num ecrã, ou em ambos e, se esses leitores vão ter de chegar a nós por outras vias, que assim seja. Como diria o outro, “o povo não é estúpido, Mark!”.
*Editor-in-chief, VICE PORTUGAL