Como cidadã, quando preciso de me dirigir a um serviço público para satisfazer uma qualquer necessidade tento não levar comigo, para não me deixar influenciar, o rol de opiniões desfavoráveis que ouço sobre esses serviços.
Procuro não confundir factos com opiniões. Sei que estas dependem dos valores e do ponto de vista de cada um, enquanto que os factos são independentes de tudo isso.
Acredito mesmo, como disse Bertrand Russel, que o facto de uma opinião ser amplamente compartilhada não é nenhuma evidência de que ela não seja completamente absurda. Lembro-me, por exemplo, da irritação de uma amiga minha, quando ouvia alguém queixar-se do tempo de espera numa urgência de um hospital público.
Dizia-me ela: as pessoas vão ao SNS, pagam uma ninharia e protestam pelo tempo que esperam para ser atendidas. Em contrapartida, quando vão a um médico privado, podem esperar o mesmo tempo, pagam imenso dinheiro e aí, ficam caladinhas! Confesso que eu também jamais protestaria se numa urgência hospitalar me pusessem horas em espera e ficaria até mais descansada!
Perceberia que afinal não estava assim tão doente pois a minha situação (após a respetiva triagem ter sido feita) poderia esperar, logo… E foi assim, com uma atitude não maculada pela opinião dos outros, que um dia destes precisei dos serviços da Segurança Social (SS). Tudo começou pela impossibilidade de pagar, como é hábito, por homebanking, uma contribuição.
Comecei por telefonar dando conta do que me estava a acontecer e quem me atendeu informou-me que alterações produzidas pela SS nos dados do formulário estavam na origem do problema e por isso, nesta fase, o pagamento só poderia ser feito na tesouraria dos serviços. Sem me restar outra solução dirigi-me às instalações da SS e aí experimentei como utente o respetivo ciclo de serviços.
[LER_MAIS] Na receção deram-me uma senha com indicação do balcão aonde me deveria dirigir e após uma espera de mais de uma hora fui muito bem atendida e o meu problema foi resolvido. Quem me atendeu explicou-me que bastava ter preenchido com os novos dados (que me foram enviados) o formulário habitual para poder continuar a efetuar o pagamento sem sair de casa.
Percebi a inutilidade da informação que me foi dada ao telefone e de como essa informação incompleta serviu para emp errar toda a engrenagem. Mas passando dos factos às opiniões, o que posso eu dizer aos outros desta minha experiência?
Direi que se preparem para esperar algum tempo, mas no fim vão ter (pelo menos na tesouraria) um atendimento excelente. Enquanto esperam aproveitem para apreciar a simpatia, a amabilidade e o cuidado com que um funcionário da receção, um rapaz de cabelo rapado, com uma camisola bordeaux, se relaciona e atende os cidadãos que com alguma deficiência.
Dir-lhes-ei que transformem o incomodativo tempo de espera na SS numa janela de observação para catar as boas coisas que esse serviço nos dá.
A mim, o atendimento e o comportamento daquele jovem da camisola bordeaux e de cabelo rapado, pacificaram e alegraram, nesse dia o meu tempo. Isto de fazer depender o que vi das coisas boas que me dispus a ver, tem, de facto, muito que se lhe diga!
*Professora
Texto escrito de acordo com a nova ortografia