Territórios e espaços privados e colectivos do Homem são dos temas retratados na exposição O Tempo Que Resta, patente na Project Room, da Galeria de Arte de Leiria – Banco de Portugal.
Em duas salas, o artista plástico brasileiro Luiz Martins conta a sua versão da história humana e do mundo inteiro. A visita, a pedido do autor, deve ser realizada em silêncio, dando espaço ao pensamento e ao coração, para que ambos, mente e coração guiem o visitante, como se fossem uma bússola, neste território criado e cartografado pelo criativo.
A exposição começa ainda no átrio da galeria. À porta da primeira de duas salas começa uma [LER_MAIS] reflexão de espaços e territórios. Ao entrar, os visitantes deparam-se com um monólito vermelho sangue, dividido em territórios.
"Está dividido mas ele é uma coisa só. É como se fosse o coração de tudo isso. Ele é o pulsante, é o pensamento emocional em relação à nossa reflexão de ser humano", explica o artista.
O Tempo Que Resta é um projecto que integra três exposições simultâneas, em São Paulo (Brasil), Lisboa e Leiria e reveste a forma de desdobramento da pesquisa do artista plástico sobre questões da Humanidade, marcadas pela intolerância.
"É o racismo, a intolerância religiosa e a intolerância política. Abordo a escravidão no Brasil, num contexto histórico, os fenómenos religioso e político da actualidade também no Brasil. Não tomo partidos, mas promovo um reflexão sobre o pensamento do Homem em relação ao próprio Homem. Nesta minha utopia conceptual, entendo que o Mundo não deveria ter fronteiras, separações de raça… somos todos seres humanos", expõe Martins.
A mostra, em São Paulo, está mais voltada para o tema do racismo, em Lisboa, é a questão cultural que está em foco. "Para Leiria, eu trouxe o território. Por isso, uso cartografias e mapas para criar uma utopia de novos territórios e cartografias a partir dos territórios políticos definidos", explica.
Por cima dos mapas, está uma frase que, para o criador resume muitas das ideias que tenta transmitir com o seu trabalho: "nunca fiz senão sonhar". Como suporte para alguns dos seus trabalhos, onde quebra fronteiras e cria novos países e nações, Luiz utiliza folhas de dicionário e de Bíblia.
"São dois objectos criados pelo Homem para manipular as grandes massas: a língua, na sua vertente política e a religião. Por que não ligar Lisboa ao Oriente? Por que não um só povo?" No meio da sala, está um país, um território-rectângulo povoado por negro carvão. É uma metáfora para uma jóia seminal que, um dia, há-de ser.
"Não devemos julgar apenas o que vemos, se não conhecermos a sua história. Faz parte do meu projecto O Tempo Que Resta e representa o meio do processo entre a existência do carbono/carvão e a sua metamorfose em diamante. É o meio do processo que me interessa. O meio entre pensar e agir. O meio do raciocínio, da razão e da acção."
O Tempo Que Resta estará patente até ao dia 30 de Abril.