Aumentou em quase 60% o número de consultas externas em oftalmologia realizadas entre 2013 e 2023 nos hospitais na região de Leiria. De acordo com os dados mais recentes notificados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), publicado nos últimos dias de 2024 e referentes ao ano anterior, os hospitais públicos do distrito de Leiria realizaram mais de 57,7 mil consultas externas de oftalmologia em 2023. Dez anos antes, o número ficava pouco acima das 42,6 mil consultas
O aumento nas consultas manteve-se em rota crescente até 2019, ano em que se realizaram quase 59,6 mil consultas, mas baixou para cerca de 49,6 mil consultas logo no ano seguinte, quando a Covid-19 obrigou o Serviço Nacional de Saúde a convergir esforços para o combate à pandemia. Desde aí, no entanto, a métrica voltou a aumentar ano após ano. O número de consultas realizado em 2023 simboliza um aumento de 9% em relação ao ano anterior e aproxima-se já do que se registava na pré-pandemia.
Durante estas consultas faz-se “uma espécie de circuito” em torno do olho “em que se verifica a existência das doenças oftalmológicas mais frequentes”. António Campos Figueiredo, médico oftalmologista no Hospital de Santo André, explicou ao JORNAL DE LEIRIA que a consulta de base tem essencialmente quatro etapas: estudar o segmento anterior do olho, analisar o fundo do olho, apurar a qualidade visual e confirmar a tensão ocular.
“Não diria que nós conseguimos ver todas as doenças ou que não nos possa escapar alguma coisa, com certeza que sim”, admitiu o especialista: “Mas a generalidade das doenças mais frequentes nós conseguimos ver no nosso consultório e recomendar de imediato, se for necessário, os exames e tratamentos mais adequados.” Esse é o ponto fundamental para que António Campos Figueiredo alerta quando lhe pedimos que nos explique a diferença entre um oftalmologista e um optometrista: “Entre os dois, o único que é médico é o oftalmologista”, por isso “o que é mais preocupante ao visitar apenas o optometrista e não oftalmologista durante anos é o facto de se negligenciar várias doenças graves com impacto na visão”. É o caso da degenerescência macular da idade em idade, uma doença da retina, por exemplo.
Mas há uma doença que preocupa especialmente o médico oftalmologista: a ambliopia em crianças, um défice de visão causado por um desalinhamento ocular que costuma surgir na infância. Nesses casos, “acho realmente errado que o caso não seja orientado por um médico porque a doença tem progressão”, concretizou António Campos Figueiredo: “Se não for corrigido até aos sete anos, a criança nunca mais irá ver bem desse olho.”
É o que explicam também as autoridades de saúde internacionais. A Academia Oftalmológica da América concorda que “um oftalmologista é o profissional mais qualificado para diagnosticar e tratar uma vasta gama de doenças oculares, que vão além dos cuidados oftalmológicos e visuais de rotina prestados por um optometrista”.
Enquanto os optometristas “são profissionais de saúde que prestam cuidados visuais primários”, os oftalmologistas acumulam essas mesmas funções com outras mais complexas: especializam-se “em cuidados com os olhos e a visão” graças a um nível de formação mais aprofundado. Os médicos são os únicos habilitados a identificar, diagnosticar e a tratar doenças oftalmológicas, inclusivamente através de medicação que só eles podem receitar.
A diferença começa logo no tipo de formação que cada um destes profissionais de saúde recebe. A formação de optometristas começa desde logo na concretização de uma licenciatura em optometria que lhes permite trabalhar em “equipas multidisciplinares na área dos cuidados visuais” e em “empresas de fabrico e comercialização de materiais e equipamentos e dispositivos ópticos”, descreve a Universidade do Minho, que lecciona este curso. Para se ser oftalmologista é necessário tirar o curso de Medicina, realizar um internato médico e depois especializar-se durante quatro anos na área da Oftalmologia.
“A visita ao optometrista não é uma consulta médica”, mesmo que essa visita costume ser mais económica, acrescentou António Campos Figueiredo. Por isso mesmo, pode haver problemas mais complexos que passam despercebidos quando o acompanhamento de um optometrista não é complementado por o de um oftalmologista.
O glaucoma, um problema de saúde que consiste numa lesão progressiva do nervo óptico com perda de visão periférica, normalmente causado à tensão alta, costuma ser “completamente silencioso” e ficar sob o radar dos testes praticados pelo optometrista. Os primeiros sinais de alerta costumam surgir quando o médico testa a tensão ocular e observa o fundo do olho, mas o diagnóstico definitivo depende de exames adicionais que só um oftalmologista pode fazer.
O mesmo acontece no caso da Diabetes, sublinhou o especialista, em que a observação pelo oftalmologista ou no âmbito do rastreio fotográfico nos cuidados de saúde primários (que são sempre lidos por um oftalmologista) é “fundamental” para a deteção da retinopatia diabética.