“Este é um ano em que a quantidade de azeitona é superior a um ano dito normal. Em relação ao ano passado a diferença é enorme, como os números demonstram. Na campanha anterior, durante toda a campanha recebemos 1.700 toneladas de azeitona, que resultaram em cerca de 220 mil litros; este ano, com a campanha a um pouco mais de metade, já vamos com quase 4.000 toneladas e 520 mil litros de azeite”, explica Pedro Gil, da direcção da Cooperativa de Olivicultores de Fátima, que espera receber perto de 6.000 toneladas de azeitona.
São sobretudo as condições climatéricas que explicam esta diferença na quantidade de azeitona face à campanha anterior. Já no que toca à qualidade do azeite, os responsáveis desta cooperativa entendem que “não é tão boa como no ano passado, com uma diferença média de mais duas ou três décimas na acidez”.
“Com os nevoeiros matinais que aconteceram na semana passada e as temperaturas altas durante o dia, a azeitona começar a gafar, ficando o azeite com menos qualidade”, refere.
Esta cooperativa tem actualmente mil cooperantes, número que deixa os responsáveis satisfeitos, porque “demonstra a satisfação dos clientes”. “A marca Azeite Fátima continua em expansão, começando a ser mais reconhecida além fronteira”, no Brasil e em vários países europeus.
Também José Vieira, gerente da Casa Féteira, de Porto de Mós, fala numa “diferença abissal” na quantidade de azeitona existente este ano. “Há cinco ou seis vez mais e o rendimento é melhor”.
O lagar está a operar 24 horas por dia, em dois turnos, transformando cerca de 70 toneladas diárias de azeitona. Os clientes são sobretudo dos concelhos de Porto de Mós, Batalha, Alcobaça e Leiria, mas também de Condeixa e de Coimbra.
“Levam o azeite que resulta das suas próprias azeitonas, se trouxerem mais de 500 quilos”, explica o empresário.
[LER_MAIS] A Casa Fetéira produz e comercializa a marca própria Vila Forte, que se vende em minimercados, cooperativas, algumas lojas e restaurantes.
“A nossa aposta é na qualidade. O azeite é extraído a baixas temperaturas de azeitonas seleccionadas e não é filtrado”. A empresa tem cerca de dez hectares de olival (seis deles já em produção), de azeitona galega, junto à serra dos candeeiros, mas compra também azeitona aos produtores da região.
“Este ano há muito mais azeitona do que no ano passado, nem tem comparação possível”, diz igualmente Zulmiro Pedro, do lagar Pia do Urso, no concelho da Batalha, que recebe e transforma azeitona de produtores dos concelhos limítrofes. Espera um azeite com uma acidez ligeiramente mais alta do que o do ano anterior.
Também Isabel Guiomar, presidente da Associação de Olivicultores da Serra de Sicó, admite que a qualidade “baixou um pouco”.
À Lusa, a responsável explicou que “o azeite, com uma acidez entre 0,8% e 0,9%, não tem aquela qualidade que devia ter. Não é mau, mas hoje em dia já conseguiríamos 03% ou 04%”. A responsável disse ainda que a rendibilidade do fruto é este ano “um bocadinho inferior”.
Isabel Guiomar frisou, contudo, que “este foi um ano abundante”, ao contrário de 2020, que registou uma produção “muito mais baixa”.
“As novas práticas de poda e cultivo da oliveira têm dado melhores resultados nos últimos anos”, congratulou-se a presidente da Olivisicó, com sede no concelho de Ansião.
Portugal é oitavo maior produtor
Azeite virgem e virgem extra lideram
Portugal deve registar uma “produção recorde” de 150 mil toneladas de azeite na campanha de 2021/2022, estimava ainda em Setembro a maior associação nacional do sector. À Lusa, a Olivum explicava que para esta previsão contribuíam “uma floração que decorreu sem problemas”, a “pluviosidade em quantidade certa” e a “quase ausência de pragas”. A produção esperada “é uma conjugação concertada do crescimento do sector, da tecnologia de precisão aplicada e das boas condições edafoclimáticas neste ano”, explanou Gonçalo Almeida Simões, director executivo da Olivum. Portugal é actualmente o oitavo maior produtor nacional de azeite em todo o mundo, sendo o olival moderno “responsável por 80% da produção nacional de azeite”. O país é ainda o primeiro no mundo “em termos de qualidade”, ao produzir “95% de azeite virgem e virgem extra”, à frente dos Estados Unidos da América, Espanha e Itália, acrescentou a associação. A Olivum lembra ainda que Portugal “garante desde 2014 a sua autossuficiência em azeite” e que as exportações “têm crescido de forma marcada nos últimos anos”. Em 2020 somaram cerca de 600 milhões de euros.