Olhando para trás, Jorge Fernandes reconhece que o chamamento começou em criança, ainda nos bancos da igreja da pequena aldeia alentejana de Vale de Peso, no concelho do Crato, onde nasceu. Via o padre a celebrar e imaginava-se, um dia, naquele papel. Mas nunca verbalizou esse desejo e acabou por seguir um caminho completamente diferente. Ingressou nas Forças Armadas e, durante quase dez anos, serviu na Academia Militar.
Em paralelo, formou-se em Direito, tendo trabalhado como consultor jurídico. Era, aliás, o que fazia quando, em 2012, fez um interregno de três meses para uma experiência de voluntariado, em Angola, que viria a mudar o rumo da sua vida.
Aos 45 anos, prepara-se para ser ordenado padre. A cerimónia está marcada para este domingo, dia 25, na Sé de Leiria. Tornar-se-á o 13.º sacerdote da Diocese de Leiria-Fátima a ser ordenado nos últimos dez anos.
Oriundo de uma família humilde – a mãe era doméstica e o pai trabalhador agrícola sazonal -, Jorge Fernandes desde cedo foi incutindo em si a vontade de ter uma vida “mais folgada”. Talvez por isso, nunca levou muito a sério o apelo à vocação, que desde cedo foi sentindo[LER_MAIS].
A família era católica, “mas não muito praticante”. “Íamos à missa nas festas da padroeira da terra, no Natal, na Páscoa e pouco mais. Eu era o mais ‘beato’ e o mais presente e entregue às coisas de Deus”, conta Jorge Fernandes, que frequentou a catequese e que, mesmo depois do Crisma, se manteve sempre ligado às actividades da paróquia.
Após terminar o 12.º ano, foi para Lisboa para cumprir o serviço militar obrigatório. Já não regressaria ao Alentejo. Concluída a tropa, surgiu a possibilidade de integrar as Forças Armadas através do serviço de voluntariado a contrato, que agarrou com todo o empenho.
“Era a oportunidade de ganhar algum dinheiro e de, ao mesmo tempo, poder tirar um curso superior”, recorda.
De dia, trabalhava na Academia Militar. À noite, estudava Direito na Universidade de Lisboa. Ao fim de quase dez anos, passou à condição de civil e esteve como consultor jurídico no Instituto de Acção Social das Forças Armadas.
Durante este período, foi sempre colaborando nas actividades da capelania. Foi aí que se cruzou com o padre Luís Morouço, da Diocese de Leiria-Fátima, que diz ter sido “o instrumento de Deus” para o guiar no caminho que seguiu.
“Fiz o meu curso, ganhava o meu dinheiro, tinha a minha casa e um projecto de vida construído. Mas o conflito interior continuava. Faltava-me qualquer coisa”, assume Jorge Fernandes.
No meio desta “inquietação”, partiu para Angola, onde esteve três meses na missão do grupo Ondjoyetu, que a Diocese de Leiria-Fátima tem na província do Sumbe. Foi, diz, uma experiência “profundamente marcante”, que lhe permitiu ter tempo para estar consigo próprio e “pensar no essencial da vida”.
Regressou a Portugal “diferente” e, pela primeira vez, partilhou com alguém o chamamento ao sacerdócio. Fê-lo com o padre Luís Mouroço, que o foi buscar ao aeroporto e o questionou se não estaria a desperdiçar a sua vocação.
Já em Leiria, cidade onde se radicou por intermédio daquele antigo capelão militar, fez um período de discernimento e, aos 38 anos, entrou para o Seminário de S. José de Caparide, em Lisboa. Formou-se em Teologia pela Universidade Católica e, em Julho do ano passado, foi ordenado diácono, seguindo-se o estágio pastoral na paróquia da Marinha Grande. Este domingo, irá receber o sacramento da ordem.
O número
12
ordenados 12 padres na Diocese
de Leiria-Fátima, que tem 110
sacerdotes, incluindo 20
eméritos, ou seja, que já não
estão em funções. A média de
idades desses religiosos é de 61
anos, sendo que, o mais novo
tem 30 anos e o mais velho 93.
Presentemente, a Diocese tem
dois seminaristas