Também acharam as lágrimas de Cristiano Ronaldo na final da Liga das Nações fingimento? Nunca desejaram tanto uma coisa ao ponto de se emocionarem? Incomodou-vos a comoção demonstrada? Confesso que me incomodou uma coisa, ou duas, para ser honesta: a crítica gratuita em relação às emoções de um homem e o desdém por alguém que já deu tanto ao nosso País. No entanto, focar-me-ei na primeira, aproveitando o facto de estarmos em junho, o mês da consciencialização para a saúde mental masculina.
Quando pode um homem chorar e mostrar vulnerabilidade? Quando pode um homem queixar-se, sentir-se triste, angustiado e deprimido? Pode um homem chorar de felicidade? Será que combina com a sua identidade ou perde-se uma tal de masculinidade que a sociedade tende a preservar? Quantos homens conhecem que não se deixam fragilizar? Que adiam pedidos de ajuda e afogam mágoas em soluções efémeras que apenas dissimulam, camuflam e agigantam problemas? Joga-se ao faz de conta, mostra-se a cara em vez do coração. E para quê? Quem se sentirá vazio e desamparado a cada acordar?
Esta é, infelizmente, uma ferida ainda aberta. A história dita que o homem seja rijo e contido nas emoções. O “faz-te um homem”, “já passou”, “não chores” ainda se ouvem por aí. Frases curtas, mas que inibem a livre expressão de sentimentos. Calam dores que precisam de sair, e o que fica lá dentro não desaparece – acumula-se e corrói.
Sem querer generalizar, até porque o desenvolvimento de competências emocionais é cada vez mais uma prática junto de crianças e jovens, penso que muitos homens ainda se fecham em copas e que os seus contextos de partilha sejam, muitas vezes, isentos de expressão emocional. Não é à toa que a taxa de suicídio nos homens é mais elevada. A contenção acumulada e a ausência de momentos que permitam o aliviar da carga lesam, sendo o silêncio o único cúmplice.
Deixar de ridicularizar a emoção nos outros é um passo para a mudança. Educar meninos a reconhecer e a falar sobre o que sentem é essencial.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990