O uso da bicicleta para as deslocações pessoais, familiares e profissionais, é uma realidade há décadas em vários países europeus. Nos últimos anos, tem-se acentuado o incentivo à utilização deste meio de transporte, fruto de uma maior sensibilização ambiental, de mobilidade e sustentabilidade.
Leiria tem apostado na criação de ciclovias, mas será que as infra-estruturas existentes permitem que os moradores dos subúrbios se desloquem de bicicleta, em passeio ou para o local de trabalho, sem se sentirem em perigo constante?
O JORNAL DE LEIRIA foi à procura de respostas e experimentou fazer a ligação entre três aglomerados urbanos periféricos e o centro da cidade. As sensações não foram as melhores, sobretudo em matéria de segurança.
Perigo na rotunda
Começámos a nossa viagem de bicicleta em frente à estação ferroviária de Leiria, na freguesia de Marrazes, e foi pela Rua da Estação que iniciámos o percurso até ao centro da cidade.
Por essa estrada recta, a sinistralidade rodoviária é constante e apesar de só existir uma via de caminho para o centro, a verdade é que a qualidade do piso e o limite de velocidade imposto aos veículos, deixam o ciclista à vontade para progredir metros e metros sem dificuldades de maior.
O grande contratempo neste percurso termina exactamente no final da estrada, na Rotunda da Almuinha Grande – com entradas para a Nova Leiria, Ponte Euro 2004, entre outras. Se quisermos entrar logo na Ponte Euro 2004, o caminho até é de fácil acesso já que se trata da primeira saída possível para quem vem da rua da Estação.
Mas, se por outro lado, precisamos de contornar a rotunda – além desta ser enorme, os automobilistas deslocam-se a uma velocidade/ arranque acima da média – o que pode colocar imediatamente em perigo a nossa segurança. Neste caso, optámos por, metros antes (junto à rotunda), virar à direita, entrar na rua António do Espírito Santo e virar novamente à direita, junto a loja da Fidelidade.
Por essa rampa abaixo encontrámos um caminho que vai fazer uma ligação segura com o caminho Polis. Até ao centro da cidade, o percurso fez-se com relativa facilidade. Quanto ao tempo demorado a percorrer esta distância, foram precisos pelo menos 8 minutos.
Condutores impacientes
O segundo trajecto que nos propusemos fazer teve início no centro das Cortes, junto à Ponte do Cavaleiro. Final do dia, com o rio Lis no horizonte, lá pedalamos rumo ao centro de Leiria.
Antes de mais é preciso salientar que existe uma panóplia de opções para todas as extremidades da cidade, se bem que para quem se quer ‘aventurar’ de bicicleta, há opções mais viáveis que outras – nós partimos com o pressuposto de chegar a alguma ciclovia já existente na entrada da cidade. Optámos por ter como referência a entrada da ciclovia da Polis, junto ao ISLA, em São Romão.
Os problemas começaram rapidamente com a própria estrada, já debilitada, com alguns buracos alcatroados à pressão e a suplicarem para serem melhorados. Com as rodas da bicicleta a embaterem constantemente nestas saliências, a experiência da viagem de bicicleta foi-se tornando-se cada vez mais dolorosa, especialmente a nível do cóccix… já dorido.
Uma realidade contrastante com a magnífica paisagem do pôr do sol sobre o prado verdejante, meia dúzia cavalos de diversas cores e uma dezena de praticantes de caminhada bem dispostos, a passearem- se na berma da estrada, para trás e para a frente.
Outro dos aspectos negativos prende-se com uma quantidade excessiva de curvas apertadas – que apesar de não se reflectir numa condução condicionada dos ciclistas, torna mais perigoso o momento de ultrapassagem dos automobilistas mais impacientes. [LER_MAIS]Passando por debaixo da ponte da autoestrada A8 (e mais perto da meta), a qualidade do piso alcatroado melhorou significativamente, mas começaram as lombas a importunar uma condução supostamente mais leve.
Resumindo, foram cerca de 25 minutos entre as Cortes e o centro de Leiria, numa viagem mais aconselhável ao fim de semana e em lazer, para aproveitar o melhor das paisagens e evitar a loucura dos condutores apressados.
Ciclovias sem continuidade
Como última etapa, resolvemos experimentar outra extremidade da cidade: Parceiros. E o nome pode induzir em erro quando falamos sobre bicicletas, ciclistas e ciclovias. O percurso foi desenhado a partir da Igreja Nossa Senhora do Rosário, junto à rotunda da sede de freguesia.
A primeira questão quanto à dificuldade do percurso prende-se com a própria localização: esta é a única das três zonas testadas em que há uma obrigatoriedade de atravessar a principal via rápida da cidade (Estrada Nacional) – a isso acrescenta-se uma maior concentração de veículos e consequentemente mais perigoso para as bicicletas e os seus utilizadores.
Isso, claro, contrasta com o piso que é de qualidade superior a todos os restantes. Para atravessar a Estrada Nacional, optámos por escolher a via menos perigosa – a ponte que vai da Media Markt à entrada do LeiriaShopping, excluindo assim a rotunda aérea, uma zona conhecida pelos mais variados e inusitados acidentes. Concluída esta parte do percurso, o caminho a partir do lado do centro comercial até Leiria parece bem mais acessível. Há uma ciclovia própria até à rotunda D. Dinis, com o infortúnio de terminar metros à frente.
Seguidamente, somos obrigados a atravessar a estrada até à rua Dr. João Soares para prosseguir até à Câmara Municipal de Leiria e ao centro da cidade, sempre por estrada. Numa viagem de aproximadamente 15 minutos, o que ficou mais na retina foi a falta de ligação entre as ciclovias existentes.
As estradas são espaçosas mas demasiado movimentadas para quem quer apenas pedalar de maneira mais citadina. A ciclovia que se encontra entre a zona traseira do Lis Shopping e a rotunda que liga Leiria à Barosa (zona do futuro Hospital da CUF) poderá ser uma solução válida, assim que concluídas as obras.