O défice orçamental – a diferença entre as receitas e despesas de um dado período de tempo e a dívida pública, ou seja, o total da dívida que os Estados têm para com terceiros – aumentou na generalidade dos países mais desenvolvidos.
Pelo contrário, a riqueza gerada por esses países diminuiu. O nível da dívida pública portuguesa, no final do presente ano, situa-se muito perto dos 130% do PIB quando em 2009 era de 80%.
Ora, a dívida do Estado e das empresas públicas em conjunto irá ultrapassar, pela primeira vez, o valor de toda a riqueza gerada no país.
O crédito junto à banca aumentou no último ano cerca de 30 mil milhões de euros, valor que daria para construir cinco aeroportos como o projectado para Alcochete.
A dívida dos países mais desenvolvidos do mundo está a chegar ao nível mais alto desde o período de reconstrução da Europa pós-Segunda Guerra Mundial.
Do grupo dos sete mais ricos, comummente conhecido por G7, apenas a Alemanha e Canadá não estimam chegar a 2020 com uma dívida superior à riqueza criada nesses países, isto é, superior a 100% do PIB.
Terá sido a crise financeira, decorrente da falência do banco norte-americano Lehman Brothers, a responsável por esta situação?
Não, uma vez que de acordo com o Fundo Monetário Internacional apenas 10% dos valores das dívidas se devem aos estímulos que os [LER_MAIS] governos fizeram de forma a combater a crise financeira.
Para muito analistas, foram os especuladores bolsistas e a liberalização dos mercados financeiros que levaram à situação actual.
Por exemplo, foi a especulação imobiliária a principal responsável pela desastrosa situação económico financeira de Espanha, onde a taxa de desemprego já se encontra acima dos 20%.
São necessárias reformas profundas no sistema económico à escala global para que os sistemas sociais, como o Serviço Nacional de Saúde português, e o próprio Estado Social, não façam parte do passado.
Enquanto não se tomarem medidas duras sobre os governos que suportam offshores nos seus países, para acabarem com os mesmos, não se regularize o sistema financeiro à escala mundial, criem impostos “pesados” sobre as mais-valias bolsistas e assumam a luta contra a corrupção como prioritária, dificilmente o crescimento económico sustentado será uma realidade.
Sem crescimento económico, os níveis da dívida e os défices públicos irão continuar em níveis insustentáveis o que levará, inevitavelmente, a uma deterioração da qualidade de vida dos cidadãos.
Importa referir que a responsabilidade para ajudar a inverter a situação em Portugal também é de cada um de nós.
Devemos poupar, deixar de consumir ac ima das nossas posses e exigir dos nossos governantes competência e honestidade.
As grandes obras públicas devem ser adiadas e o próprio sistema judicial profundamente reformado.
*Professor e Investigador