“É inaceitável que uma criança do nosso concelho desperdice diariamente três horas do seu precioso tempo em transportes para poder frequentar o ensino obrigatório”.
O desabafo é de uma mãe, cujo filho, residente em Rio de Couros, é obrigado a levantar-se diariamente às seis da manhã, para apanhar o autocarro às 7 horas e ter aulas em Ourém às 8:30 horas. À tarde, o mesmo “inferno”. Sai às 17:45 horas, mas só chega a casa depois das 19:30 horas, apesar de residir a menos de 20 quilómetros da escola.
O lamento desta mãe está vertido numa carta aberta, publicada no grupo de Facebook Amigos de Ourém e seu Concelho, que gerou dezenas de comentários de pais cujos filhos se encontram na mesma situação ou de pessoas que já sentiram na pele este problema que se arrasta “há mais de 30 anos”. Pode, no entanto, haver uma luz ao fundo do túnel.
O presidente da câmara, Luís Albuquerque, avança ao JORNAL DE LEIRIA que o município solicitou à Rodoviária do Tejo uma proposta para o “desdobramento em dois” do circuito que serve o norte do concelho, o que permitiria “ganhar meia hora de manhã e ao final do dia”.
O autarca sublinha, contudo, que a solução “está sempre dependente da Rodoviária e da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo”, que é agora autoridade de transporte neste território.
“Uma questão de opção”
“É uma questão de opção. Lisboa tem transportes gratuitos para todos os estudantes. Isso custa dinheiro à cidade, mas tem benefícios sociais. Em Ourém, há a possibilidade de contratar mais serviço. Fica mais caro, mas aliviam-se os sacrifícios das pessoas”, alega João Filipe, residente na Freixianda e pai de um jovem que frequenta a Escola Secundária de Ourém.
Neste caso, o aluno consegue fugir ao “calvário” das quase “três horas” diárias passadas no autocarro e nos percursos até às paragens, porque, na maior parte dos dias, pode ir de boleia com o encarregado de educação, que trabalha na sede de concelho.
Pedido “ajuste” ao circuito
Sorte diferente tem a filha de Sylvie Duarte, que, para fazer os 19 quilómetros que separam a casa e a escola, demora uma hora e meia para cada lado. “As rotas são exageradamente grandes e não oferecem condições de segurança. Muitas vezes, os alunos têm de ir em pé grande parte do percurso. Não é, de todo, o ideal, dada a perigosidade da estrada”, alega esta mãe, que se diz “cansada de ouvir que não há solução”.
No caso de Sylvie Duarte, a opção passa por, sempre que pode, levar a filha à escola de carro.Apesar de reconhecer que, em termos económicos e ambientais, “não é o mais fácil nem o correcto”, diz que o faz na tentativa de lhe “aliviar” a carga horária.
Na carta aberta, é sugerido o “ajuste” da rota que serve a zona norte do concelho, de forma a reduzir os tempos de viagem, ou, em alternativa que seja possível aos encarregados de educação “escolher o local de embarque, permitindo que o passe seja feito com uma morada diferente da residência e não obrigando os alunos a embarcar nas respectivas moradas com horários de transporte completamente descabidos”.
“Fala-se muito da necessidade de fixar pessoas nestes territórios de baixa densidade. Mas como querem que as pessoas aqui fiquem ou que venham para aqui morar se não se revolve um problema que afecta, e muito, a qualidade de vida das pessoas?”, questiona Sylvie Duarte.