– Já não há paciência … para este 2020. Que isto acabe depressa.
– Detesto… esta incerteza de não saber como será o próximo ano escolar. Se tiver de ter outra vez os miúdos em casa, com a quantidade absolutamente desproporcional de trabalhos que lhes pedem (todos começados com um “pede a um adulto” ou “para fazeres em família”), como foi o caso entre março a junho, rebento. Eu e mais uns bons milhares de encarregados de educação.
– A ideia… de que agora é tudo novo, é uma enormíssima falácia. Ler textos medievais em que as pessoas se queixam que a juventude de hoje está perdida, ajuda a colocar muita coisa em perspectiva. Faz muita falta estudar História, que de resto é uma disciplina que deveria estar muitíssimo mais representada no percurso escolar obrigatório. Passo os dias embrenhada a estudar a vida de pessoas que morreram há coisa de 250 anos, e está lá tudo. Até o Facebook.
– Questiono-me se… estaria boa da cabeça quando decidi fazer um doutoramento. Estou a dar em doida e ainda (ou apenas) me faltam seis meses para entregar a tese.
– Adoro… ter tempo para mim. Acontece-me muito raramente.
– Lembro-me tantas vezes… do meu saudoso tio Jorge Estrela. A falta que ele me faz.
– Desejo secretamente… que os meus filhos cresçam felizes e tenham suficiente poder de encaixe para viver com a mãezinha que lhes calhou na rifa, sem se tornarem psicopatas ou casos de estudo.
– Tenho saudades… do tempo em que festejavam o dia dos meus anos e ninguém estava morto, como dizia Álvaro de Campos.
– O medo que tive.. da primeira vez que vi o mar revolto na praia da Nazaré. Eu passava lá os verões com o avô dos meus primos, o Coronel Fausto Simões, a quem todos chamávamos carinhosamente de Avô Lola. Ele ia comigo para o mar, eu cheia de medo e ele a segurar-me firme na mão, e quando já estávamos muito perto da onda ameaçadora que rebentava em espuma, quase a levar-nos com ela e já impossível fugir, dizia-me: ”Vai à onda!”, e eu mergulhava por baixo da massa de água em fúria, deixando-a passar, implacável, por cima de mim, e voltava à superfície já do outro lado, em segurança, orgulhosa por ter conseguido vencer o medo, o mar e a mim própria.
Aprender a ir à onda, foi das maiores lições de vida que alguma vez tive. Continuo a ir. Todos os dias.
– Sinto vergonha alheia… quando ouço alguém dizer que o feminismo é igual ao machismo mas ao contrário. Quando ouço alguém dizer que não é feminista porque não é contra os homens. Quando ouço alguém dizer “eu não sou racista, mas…”. Quando vejo juízes a minimizar crimes de violação e de abuso por “boa inserção social” dos culpados. Quando vejo pessoas a acreditaram em qualquer coisa que lhes digam, só porque leram na net. Ainda há muito por fazer.
– O futuro… é risonho. Por mais negro que seja.
– Se eu encontrar… uma maneira de fazer com que os meus dias estiquem, terei resolvido um grande problema.
– Prometo… só o que posso cumprir.
– Tenho orgulho… em mim própria. Em ter batido no fundo e regressado. E nos meus filhos, que são os mais lindos.