– Já não há paciência … Para indivíduos extremamente individuais que sabem coisas em letras maiúsculas e defendem causas extraordinariamente importantes enquanto bebem batidos com bagas goji e abraçam árvores para a câmara do telemóvel. O algoritmo baralha-se muito, hoje em dia, no que toca à #tolerância.
– Detesto… Horários. Guerras, apocalipse e alterações climáticas é na boa, agora despertadores com hora marcada faz acordar em mim o pior lado do meu mau feitio activista. Também detesto a palavra detestar. Tentar gostar dá mais trabalho mas acaba por ter mais utilidade.
– A ideia… ponto. A ideia, normalmente escrita em maiúsculas, é uma coisa que me pedem muito para ter e até me pagam para fazer justamente isso. De resto, passo tanto tempo a ter ideias e a escrever sobre a vida dos outros que chego a pensar que a minha própria vida é patrocinada por uma marca qualquer. Do género: Raquel, powered by Nespresso. Lá chegaremos todos.
– Questiono-me se… no dia em que chegar a minha hora e me sentar na poltrona do purgatório a passar a minha vida a pente fino, não encontrarei alguém vagamente parecido com o Nuno Eiró que me vai dizer: “epá, isto era para os apanhados!” E depois ri-se muito e dá-me palmadinhas nas costas ao som de um jingle de livraria musical.
– Adoro… Pão com manteiga. De resto, costumo usar esta interessantíssima característica pessoal para dizer que dou valor a coisas simples. Ou isso ou
tenho um gosto secreto pela poesia das canções do Tino de Rans. Agora que penso nisso, esta última valida a teoria. É um facto. Sou uma pessoa simples inclusive ao nível de rimas e cancioneiro.
– Lembro-me tantas vezes… de provérbios. O meu preferido é: Mais vale rico e com saúde do que pobre e doente. E acho que isto diz tudo.
– Desejo secretamente… receber um e-mail do Estado com o seguinte conteúdo: Caro contribuinte, o seu processo foi reavaliado e, na verdade, quem lhe deve uma quantia ridícula de impostos somos nós a si, só pelo facto de existir tal como é. Vá lá à sua vida descansada que a partir daqui tratamos nós. E desta vez tratamos mesmo. Melhores cumprimentos.
– Tenho saudades… do meu pai. Na verdade, não tenho muito mais a dizer sobre isto mas decidi continuar a juntar letras que formam palavras porque depois pensei que ficava aqui um espaço em branco e eu sofro muito por antecipação.
– O medo que tive… já disse que sofro muito por antecipação. O que é querem mais de mim? Na verdade, tive medo de não chegar ao fim deste questionário sem entrar numa crise existencial.
– Sinto vergonha alheia… sempre que ouço uma frase começada por “como eu costumo dizer…” Normalmente, o conteúdo que sucede a introdução não justifica a auto citação. “Eu sou uma pessoa que…” também gosto de ouvir e resulta quase sempre num monólogo de pelo menos 25 minutos.
– O futuro… é fugidio e faz-me pensar em caniches a correr atrás da própria cauda. Fora isto, não sei adiantar mais nada porque nunca estive no mesmo sítio que o visado e, “como eu costumo dizer” não se fala atrás das costas nem daquilo que não se sabe.
– Se eu encontrar… o Mark Zuckerberg pergunto-lhe como é que ele faz em casa e mando-o fazer a cama. Não suporto pessoas que desarrumam as coisas e não voltam a pô-las no sítio.
– Prometo… que é desta que vou cumprir tudo aquilo que prometi. A menos que venha a sofrer de amnésia. Nesse caso, posso entrar em incumprimento mas a culpa não é minha.
– Tenho orgulho… em não ser ditadora. Ri-te, ri-te. Anda para aí uma linha muito ténue no que a este assunto diz respeito e eu “sou uma pessoa que” tenta dar valor às coisas enquanto as tem.