As competições seniores masculinas das modalidades colectivas estão quase todas em marcha. Apenas faltam os distritais de futebol e futsal, que começam a arrancar no próximo fim-de-semana. A verdade, porém, é que de uma temporada para a outra muita coisa mudou no panorama competitivo.
Se por um lado, num universo de 106, constata-se a desistência de 19 equipas, por outro assiste-se ao advento das equipas B. Nada menos do que nove emblemas optaram por reforçar a participação nas provas de seniores com um grupo que dá espaço aos mais novos. É uma forma de contornar o facto de os escalões jovens estarem impedidos de competir por imposição governamental.
Comecemos por quem sai. Quase todos têm vontade de regressar o mais rapidamente possível. Foram oito clubes de futebol, nove de futsal, um de hóquei em patins e mais um de voleibol que resolveram abdicar de competir em 2020/21 e os motivos são os mesmos. Apontam razões de saúde pública e financeiras para a interrupção.
“As orientações definidas pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) para a retoma das modalidades de pavilhão impõe um conjunto de regras e procedimentos complexos. Não obstante termos reiniciado os treinos, e termos cumprido todas essas regras, entendemos que a solução mais sensata, tendo em consideração todo o contexto actual, é não avançarmos com a participação nas competições em referência”, explicou a secção de hóquei em patins do Leiria e Marrazes.
O clube, que iria participar na 3.ª Divisão da modalidade, garantiu que esta ausência “não terá consequências desportivas e financeiras”. Manifestou, também, a intenção de regressar já em 2021/22.
Ressalvou, contudo, que neste não podia ficar indiferente “à actual situação” e ao potencial “impacto” que tem na vida dos “atletas e demais agentes desportivos envolvidos”.
“A pandemia, as normas da DGS e a perda de receitas provocada pelas restrições” foram as razões apontadas pelo Peniche Amigos Clube para explicar a não entrada na Divisão de Honra de futsal.
Já os dirigentes, equipa técnica e atletas do Centro Recreativo e Popular da Ribafria, na Benedita, foram “unânimes” na decisão de não participar na 1.ª Divisão distrital de futsal, após “análise cuidada das variáveis inerentes à competição no actual quadro pandémico, nomeadamente compromissos laborais dos atletas, gestão de riscos, sustentabilidade financeira e papel social da actividade”.
Protecção às populações
Com “tristeza”, a Direcção do Núcleo Desportivo Amigos de Vidais, de Caldas da Rainha, considerou não haver condições para a participação na Divisão de Honra distrital de futsal.
“A consciência de que é necessário salvaguardar a saúde e bem-estar de todos aqueles que fazem parte desta família foi mais forte. Tivemos também em conta o facto de haver uma grande imprevisibilidade no que respeita à duração e consequências futuras da pandemia”, explicou.
No futebol, a desistência mais surpreendente foi foi do Grupo Desportivo e Recreativo da Boavista, de Leiria, que militava na Divisão de Honra distrital e que competia ininterruptamente nas competição da Associação de Futebol de Leiria desde 1977/78.
O número
9
Logo em Agosto, a Direcção do clube explicou a dificuldade na captação de apoios financeiros como a principal justificação para a tomada de posição. “Desde o início da pandemia que não é possível efectuar qualquer tipo de eventos para a captação de receitas, reflectindo-se também no apoio das empresas, que infelizmente não atravessam um momento saudável a nível financeiro.”
Houve também quatro clubes do concelho de Pombal que abdicaram de participar nas competições da Associação de Futebol de Leiria. A Associação Cultural, Desportiva e Recreativa de Almagreira decidiu retirar a equipa sénior das competições devido ao “aumento consistente de casos” na região.
“O novo coronavírus encontra-se amplamente disperso pelas nossas comunidades e a realização de jogos em ambientes exteriores à Almagreira comporta riscos demasiado elevados que os nossos jogadores, as suas famílias e esta associação não podem tomar”.
Além disso, “a não presença de público nos jogos, apesar de ser uma decisão sensata, não foi acompanhada com medidas de apoio aos clubes por parte das entidades competentes”.
Além da integridade física dos atletas, o Sport Castanheira de Pera e Benfica pretende, com a interrupção da prática desportiva, proteger os familiares dos desportistas, “especialmente porque o concelho é constituído por uma população maioritariamente idosa”.
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Segundas equipas
Ora, o facto de a competição dos escalões de formação continuar interdita tem levado, por outro lado,vários clubes e associações de modalidade a tentar criar formas de contornar a situação. E são estas equipas que vão disfarçar as ausências nos diversos quadros competitivos.
Na semana passada, demos a conhecer a iniciativa da Associação de Futebol de Leiria, que resolveu criar um campeonato de sub-21, sénior portanto, onde os juniores poderão competir desde que façam o exame de avaliação médico-desportivo de sobreclassificação.
É uma solução, mais ainda houve quatro clubes que optaram por inscrever uma equipa B na 1.ª Divisão distrital de seniores. Um deles é o Sporting de Pombal que vai juntar os juniores, aos seniores a estudar fora da região.
“É para que não se perca uma geração”, explica António Sintra, presidente do clube. “Se não os inscrevêssemos, em dois anos teriam apenas três meses de competição.”
Na verdade, esta é uma “fase sensível” na carreira dos futebolistas, prossegue o responsável. São os anos de ingresso no ensino superior e se não for prolongada a competição “acabam por abandonar” a prática da modalidade.
Também surgiram três equipas secundárias de futsal, uma de hóquei em patins e outra de andebol. A maioria, precisamente para dar espaço competitivo aos mais novos.
Com a mesma justificação, há clubes que resolveram criar equipas seniores quando anteriormente não as tinham.
A Juve Lis vai colocar um grupo, denominado sub-23, na 3.ª Divisão de andebol e não apresentará equipa no campeonato de juniores, se vier a arrancar. Junta-se o útil ao agradável.
Vantagens? “Dar competição superior aos miúdos e a possibilidade de ter seniores que jogam menos a competir também”, conclui o treinador, Paulo Félix.