O agravamento da concorrência entre os operadores, uma maior sensibilidade dos clientes ao preço e a “forte queda da procura” por parte da hotelaria são alguns dos constrangimentos sentidos pelas empresas de panificação e pastelaria, cujo volume de negócios atingiu os 730 milhões de euros no ano passado.
Constrangimentos que, aponta a consultora Informa D&B, “permitem antecipar uma queda de receitas e da rentabilidade do sector da panificação e pastelaria industriais em 2020”. “Ainda assim, cerca de metade das empresas apresenta resiliência financeira elevada ou média-alta, facto que poderá ser decisivo para enfrentarem a presente conjuntura”.
A consultora frisa que sendo este um sector com grande quantidade de pequenas empresas, “a sua capacidade para enfrentar o futuro próximo é muito variável”. Tal como são variáveis os impactos decorrentes da pandemia.
“Registamos quebras de 40%”, revela Armando Rato, administrador da Brisanorte. “O nosso forte é a pastelaria, não o pão”, aponta o empresário de Leiria, para explicar que os seus produtos são vendidos sobretudo nos espaços da empresa, que estiveram fechados na fase inicial da pandemia. Por outro lado, bolos para eventos e para aniversários e doces para restaurantes, segmento em que a marca é forte, também praticamente deixaram de se vender.
“Não conheço o estudo, mas reconheço que a panificação pode ter sofrido menos os efeitos da pandemia, sobretudo se trabalha com supermercados”, afirma Hélder Pires. O responsável pela Pires Pastelarias, sediada em Leiria, adianta que o pão “tem um peso reduzido” no negócio da empresa e que os impactos da pandemia se vão sentir “de forma significativa”.
O facto de a empresa ter aberto no final do ano passado mais lojas acabou por ajudar a minimizar um pouco as quebras nas vendas. “Havendo mais espaços a funcionar, acaba por não se sentir tanto a quebra. Sem as novas lojas, a descida seria de 40%”.
Assim, estima Hélder Pires, o ano de 2020 vai terminar para a Pires com quebras de facturação na ordem dos 15%, “mas também com muito mais despesas, devido a rendas e a encargos com funcionários” das novas pastelarias.
Apesar de ter “muito trabalho”, “são artigos pequenos e encomendas em pouca quantidade”, o que afecta a produtividade e os resultados, diz por sua vez Rui Marques, da empresa Atelier do Doce, em Alfeizerão, Alcobaça.
Embora por estes dias as vendas tenham melhorado, sobretudo devido ao bolo-rei, tal não é suficiente para compensar as quebras ao longo dos últimos meses. “Este vai ser um ano para acabar a zeros, o que já não é muito mau. Talvez se consiga chegar ao positivo”, espera o empresário.
[LER_MAIS] Nesta empresa, as vendas ao cliente final cresceram durante este ano, por via da loja junto à fábrica mas, sobretudo, devido ao canal online. As vendas para supermercados mantiveram-se, mas as vendas de bolos para cafetaria/restauração baixaram.
“Foi o segmento onde as vendas mais caíram, sobretudo nos bolos de fatia que vendemos para as cafetarias”, explica o responsável da Atelier do Doce, que neste segmento tem como grande cliente a Bagga (Sonae).
Segundo a Informa D&B, em 2019 o volume de negócios do sector da panificação e pastelaria cresceu 3,5%, atingindo os 730 milhões de euros. “O segmento de massas congeladas representa 30% da facturação total do sector e está a substituir os produtos tradicionais dos segmentos de panificação e bolos, nomeadamente no canal de hotelaria e restauração”.
No mesmo ano, as exportações cresceram 7,5%, para os 258 milhões de euros, com Espanha a representar mais de um terço (36%) deste valor.