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Recentemente li que apesar de regulamentação em 2019, existem apenas 200 famílias de acolhimento em Portugal e mais de 6300 crianças e jovens em instituições.
Recuei ao Verão de 2021 em que fui chamada como testemunha no processo de adoção da pequena C. de 3 anos para, como expliquei à minha filha de 4 anos na altura, “a mamã vai dizer ao senhor juiz que a D. e o T. têm de ser os papás para sempre da C.”
A pequena C. fez este mês 5 anos e realmente tem os melhores pais do mundo. Recordo-me igualmente quando à porta da escola, uma amiguinha da turma da minha filha me anunciou “eu já tenho uns papás do livro!”
Por acaso sabia que os meus amigos tinham construído um livro para se apresentarem à sua filha antes de ela ir para casa com eles. E então perguntei discretamente à auxiliar da instituição que a acompanhava “vai ser adotada?” Ao sinal afirmativo, escondi as lágrimas e desejei-lhe toda a felicidade do mundo. Estava na instituição desde que nasceu. Tinha 4 anos.
Enquanto psicóloga, terapeuta familiar e mãe, estes casos de sucesso enchem-me o coração. Nascer e crescer saudável numa família é o mais básico dos básicos. E nós tomamos por garantido. Mas ver a felicidade de uma criança que finalmente vai ter uma mãe e um pai, diz tudo sobre o que é realmente importante.
Há dias a minha filha voltou a questionar-me sobre o episódio de adoção da C. Quando novamente tive de explicar que havia meninos a viver em casas grandes sem as famílias com outros meninos, a minha filha atualmente com 6 anos chorou. Disse que não percebia porque os meninos não estavam com os pais e as mães. E eu dei-lhe esperança porque existem famílias adotivas e famílias de acolhimento que podem dar o amor que essas crianças necessitam. Só não lhe disse que não são suficientes.
As recomendações europeias e estudos internacionais indicam que as crianças até aos 6 anos deveriam estar em ambiente familiar (biológico ou de acolhimento), sendo a institucionalização nessas idades apenas para casos específicos.
Sabemos hoje que por muito boas que sejam as instituições, não substituem um ambiente familiar em que há um cuidador exclusivo para um menor número de crianças. Um ambiente familiar é um berço de nutrição afetiva necessário a um bom desenvolvimento de uma criança.
Caso sinta o apelo para ser família de acolhimento, informe-se junto da Segurança Social ou do Centro Social Paroquial Paulo VI.
