Quando Portugal esteve pela última vez num Europeu, em 2006, ainda Pedro Portela vivia em Regueira de Pontes e jogava no Académico de Leiria. Passaram 14 anos.
O andebol nacional deu uma volta. Passou por dificuldades, soube reinventar-se e, aconteça o que acontecer, a competição que arranca a 10 de Janeiro e decorre até dia 27 em três países, promete ser histórica para o País.
Ainda assim, como no futebol, o sorteio do Europeu não foi nada meigo para a selecção nacional. Em Trondheim, na Noruega, Portugal irá defrontar a colossal França, três vezes campeã europeia, seis vezes campeã mundial e duas vezes campeã olímpica.
Também a Noruega, que além de jogar em casa, tem progredido na modalidade, conquistando a medalha de prata nos dois últimos Mundiais. Por fim, a Bósnia-Herzegovina, que se estreia nesta competição, ansiosa por mostrar ao mundo o orgulho da nação.
Uma árdua tarefa aguarda os 18 jogadores chamados à prova. É que segunda fase passam apenas os dois primeiros do grupo D. A margem de erro será reduzida. “Não será fácil, calhámos numa série com selecções fortíssimas, mesmo assim o nosso objectivo é ultrapassar com sucesso a fase de grupos”, sublinha Pedro Portela. [LER_MAIS]
Na verdade, “tudo é possível”, sublinha o ponta-direita. Até porque, na fase de qualificação, trinta e nove anos depois, com a arte e o engenho que nos caracterizam, Portugal foi capaz de bater esta mesma França, em Guimarães, por esclarecedores 33-27.
Foi um jogo em que o seleccionador Paulo Jorge Pereira surpreendeu o adversário ao jogar em largos períodos com sete elementos no ataque, deixando a baliza desprotegida. A defesa contrária nunca se adaptou.
“Sabemos que os nossos adversários são fortes, mas nós também somos. Obviamente, se conseguirmos voltar a surpreendê-los será mais fácil ganhar, mas eles também vão estar mais precavidos. Vamos ter de ser perfeitos”, diz o canhoto de 30 anos
Pedro Portela tem, no último ano e meio, coleccionado experiências que podem vir a ser decisivas para a equipa das quinas. No início da temporada 2018/19, resolveu deixar o Sporting, embarcar para os arredores da capital francesa e assinar pelo Tremblay, do primeiro escalão gaulês.
Queria testar os limites. Jogar, todas as semanas, contra os melhores dos melhores. Hoje, sente-se mais realizado enquanto andebolista. Participa numa competição onde, todas as semanas, o último pode ganhar ao primeiro. Onde o espectáculo é privilegiado, onde os adeptos contam.
Mas também ganhou uma experiência de vida que jamais irá esquecer. Viver Paris, usufruir de Paris, aproveitar tudo o que este centro mundial de arte, da moda, da gastronomia e da cultura tem para oferecer.
E também uma cultura desportiva completamente diferente da nossa. “O futebol, o rêguebi, o basquetebol ou o andebol, todos os desportos têm direito a aparecer nas primeiras páginas dos jornais e nas televisões.”
Tão importante como a experiência de vida é a experiência desportiva. “Naturalmente, evoluí bastante. Sinto que sou muito melhor jogador. Enfrento os melhores jogadores e os melhores guarda-redes e tenho de arranjar uma forma de os bater.”
No fundo, encontrou competitividade. Algo que ainda falta ao andebol português, onde três equipas lutam pelo título e há mais duas ou três que lhes podem fazer frente. Ainda assim, garante, a competitividade demonstrada pelo Sporting e pelo FC Porto na Champions League são provas provadas que o nosso andebol continua a evoluir.
Para o leiriense, que já tinha jogado na mais importante competição continental de clubes pelos leões, disputar o Europeu de selecções “será o realizar de um sonho de infância”.
“Sempre quis poder estar nesta prova. Temos grandes jogadores em todas as posições e estamos preparados”, garante. E se no campeonato francês encontra todas as semanas alguns daqueles que em tempos foram seus os ídolos e que agora quer bater, no Europeu, então, não faltará um único dos nomes grandes da modalidade. Nem vale a pena enumerar, mas um deles será sempre o nosso puto.