Fiquei há relativamente pouco tempo amigo de uma pessoa que faz parte de um grupo de gente que se junta para pensar nas pequenas coisas. Eles também pensam nas grandes é claro mas isso é mais vulgar e por isso menos interessante.
Vivem alguns numa pequena aldeia espanhola e os outros espalhados pela Europa toda e usam uma boa parte do seu tempo livre neste jogo de pensar as coisas que verdadeiramente incomodam, inquietam, mobilizam, estimulam as pessoas e só no breve período das eleições autárquicas merecem a atenção dos media e, frequentemente em resposta de amiba, aos movimentos e partidos políticos.
Esta gente se tem partido não se nota. Cada um sabe de si e a política nacional institucionalizada não é chamada para cima da mesa. O grupo pensa, não tem prazos a cumprir, não tem nada a perder nem a ganhar. As questões que coloca são como já disse em cima, as pequenas coisas. A falta de médico ou de enfermeiro, a ribeira poluída, a escola, o horário dos transportes públicos e um mundo de coisas muito importantes a que quase nunca se dá a mínima importância.
Há regras a seguir nesta conversa. Por exemplo, as dificuldades localizadas resolvem-se localmente; nenhum sítio, pequeno ou grande, é uma ilha isolada os problemas assemelham-se e todos podem contribuir para a sua resolução; devemos contar com as nossas próprias forças antes de começar a contar com a força de outros; nada funciona sem sabermos exatamente quanto custa e onde se vai buscar o dinheiro para a concretizar; falhar é sempre um impulso para fazer melhor.
E assim, devagar, se vai construindo uma proposta de solução. É indiferente, mas talvez não completamente indiferente, que os partidos e movimentos da política institucional não ligam nada a isto.
E, quando for o tempo dessas coisas vão dizer as mesmas coisas, encontra os mesmos problemas, propor as mesmas soluções, eleições após eleições. Se alguém me perguntasse tenho para mim que é uma boa ideia começar a pensar em Leiria nos nossos pequenos problemas e na forma de os resolver. As coisas demoram a pensar seriamente mais tempo do que gostaríamos.