Alzira, André, Louis e Joana têm em comum a frequência de cursos profissionais e uma carreira de sucesso. Louis foi eleito Chefe Cozinheiro do Ano 2012, Alzira e Joana constituíram as próprias empresas e André é vereador da Câmara Municipal da Batalha.
Determinados a seguir a sua vocação, acreditam que fizeram a melhor escolha quando deixaram para trás o ensino regular.
Quando Louis Anjos, 35 anos, terminou o 9.º ano, escolheu o curso de Cozinha na Escola de Hotelaria de Fátima, sem grande convicção. “Desde miúdo que gostava de ajudar a minha tia a fazer bolos e sobremesas. Era um bom ajudante, mas o interesse por cozinhar acabou por ser um acaso”, confessa.Vinte anos depois, garante que hoje faria a mesma opção.
“A escola fez-me crescer este interesse pela cozinha, deu-me a formação adequada e as ferramentas necessárias para poder ingressar no mercado de trabalho. Os conhecimentos adquiridos foram muito valiosos.”
“Uma boa formação base é muito importante para podermos dar os primeiros passos. O resto vem com a paixão, a determinação, o querer e o trabalho com bons profissionais, mas sem nunca perder o foco no nosso objetivo”, acrescenta Louis Anjos.
Natural de Minde, no distrito de Santarém, diz que sempre foi bom aluno, pelo que tinha média para entrar num curso superior, mas optou por começar logo a trabalhar.
Os primeiros seis anos da sua carreira foram passados em restaurantes na região de Leiria-Fátima, dos quais destaca o Charbonada, onde aprendeu a importância do rigor. A vontade de crescer a nível profissional levou-o até ao Algarve, onde trabalhou nos hotéis de cinco estrelas Vila Vita Park, Vila Lara, Suites Alba e MacDonald Monchique.
“Durante este percurso venci os concursos Chefe Cozinheiro doAno 2012, A Revolta do Bacalhau e ganhei o Prémio Revelação do Ano 2016 no Guia Boa Cama Boa Mesa.”
A desempenhar funções como chefe de cozinha no Restaurante Bon-Bon, detentor de 1 estrela Michelin, Louis Anjos considera que para se ser um profissional de excelência na sua área tem de se ser dedicado, humilde e disponível,sem nunca perder a paixão.
Combater o estigma
Joana Conde, 39 anos, sempre soube o que queria, pelo que não hesitou em matricular-se no Curso Técnico de Cozinha da Escola Profissional de Leiria, quando concluiu o 9.º ano de escolaridade.
“Gostava de receber as pessoas,de preparar festas, de pensar em tudo. O curso de Cozinha foi o ponto de partida para o que faço hoje.”
Após a conclusão do curso, Joana Conde fez dois estágios nos EUA, na área da Cozinha e, quando regressou a Portugal, trabalhou na área de eventos no Casino da Póvoa e na empresa de catering Casa do Marquês, em Lisboa.
“Procurei estagiar em sítios onde pudesse aprender mais. Queria ver de perto como é que as [LER_MAIS] coisas funcionavam.” Além de sempre ter tido espírito empreendedor, estas experiências deram confiança a Joana Conde para constituir a Iguarias do Tempo, em 2001.
“Sou a organizadora de eventos que sou, porque tenho a base de Cozinha. Consigo falar como meu chefe de cozinha, porque tenho essa experiência. Falo do que conheço”, justifica.
“Sou muito criativa, tenho uma capacidade visual muito ampla e consigo logo ver o todo.” Essas características, aliadas à falta de disponibilidade, levaram Joana Conde a parar de estudar no 12.ºano.
“As pessoas acham que ter uma licenciatura é fundamental. Conheço muitos licenciados que não trabalham na sua área e não se sentem realizados.” Lamenta ainda que continue a existir um estigma em relação ao ensino profissional.
“Se o País quer ir para a frente, precisa de médicos, advogados, mas também de bons técnicos, e não temos. Sinto isso na pele todos os dias.”
Determinada desde criança
Alzira Antunes, 47 anos, também não prosseguiu estudos a nível superior, após ter concluído o curso de Mestre de Cantaria na Escola de Artes e Ofícios Tradicionais da Batalha (EAOTB), já extinta, quando ainda funcionava no Mosteiro da Vila.
Sempre soube a profissão que queria seguir e constituiu uma empresa na área, a Gárgula Gótica – Cantaria Artística, Escultura, Conservação e Restauro.
O interesse pela escultura da pedra surgiu em criança. “O meu pai tinha uma pedreira e vendia muita pedra a escultores e canteiros. Adorava ver o trabalho deles”, recorda Alzira Antunes.
“Um senhor de Barcelos deu-me uma carranca [máscara em pedra] e disse-me que, um dia, havia de fazer uma. Foi o meu primeiro trabalho livre. Deu-me uma trabalheira, mas fiquei muito orgulhosa quando o acabei”, conta.
“Outro senhor de Pêro Pinheiro deu-me as primeiras ferramentas para abrir os caracteres [talhar palavras na pedra]. Tudo à minha volta me impulsionava”, revela a empresária.
Natural de Alcanede, no distrito de Santarém, investigou onde podia aprender a esculpir a pedra e inscreveu-se no curso de Cantaria da EAOTB. O entusiasmo e empenho de Alzira Antunes, e de António Moreira, seu sócio na empresa, levaram o mestre Alfredo, então responsável pelo curso, a convidá-los para fazerem um estágio de um ano e, depois, a serem seus assistentes.
Em Dezembro de 1998, os dois mestres de Cantaria criaram a Gárgula Gótica, na Batalha, que é hoje uma referência a nível internacional. Alzira Antunes revela que o aluno que venceu, no ano passado, o Campeonato Mundial de Cantaria foi preparado por António Moreira, que esteve no Brasil a dar-lhe formação.
“Recebemos inúmeros contactos de pessoas que querem aprender a trabalhar a pedra”, afirma, mas a disponibilidade dos sócios da Gárgula Gótica é pouca, já que têm sempre projectos de grande envergadura em mãos.
Exemplo disso é um gato em pedra, de 25 toneladas, que fizeram para o Coachella, um festival de música e de arte nos Estados Unidos. Desenhado pelos irmãos Niki e Simon Haas, o gato foi transformado numa escultura na Batalha.
Clientes regulares da Gárgula Gótica, os irmãos Haas valorizam o trabalho manual e a última encomenda que fizeram foi uma banheira, de seis toneladas, e uma lareira, para serem vendidas em exposições.
Noventa por cento da produção da Gárgula Gótica destina-se aos EUA e ao Reino Unido. Neste caso, um cliente russo, para o qual vão fazer capitéis e coríntios, com cerca de seis toneladas. “Somos a única empresa do País a fazer este tipo de trabalhos”, afirma Alzira Antunes.
Os restantes 10% da produção são absorvidos pelo mercado português, onde trabalham sobretudo no restauro de peças de particulares, juntas de freguesia e câmaras municipais.
“Fizemos os quatro apóstolos para o Senhor do Padrão, em Matosinhos, e capitéis, colunas e mísulas para um palacete de Pombal.”
Fascínio por trabalhos práticos
O contacto com a área da serralharia, desde pequeno, também despertou o interesse de André Loureiro, 35 anos, por trabalhos práticos, pelo que, no 10.º ano, inscreveu-se no curso de Técnico de Electrotecnia da Escola Profissional de Leiria. “A área tecnológica sempre me fascinou, sobretudo a automação”, revela o vereador da Câmara Municipal da Batalha.
Ao contrário do que era comum ouvir-se na época, André Loureiro nunca entendeu que o ensino profissional fosse vocacionado para alunos com mais dificuldades. Aliás, quando se licenciou, no Instituto Politécnico de Viseu, constatou que tinha mais facilidade do que os outros alunos, nas aulas práticas.
“Fui muito bem preparado para o ensino superior, em relação aos meus colegas do ensino regular.” Concluída a licenciatura em Engenharia Electrotécnica, André Loureiro enveredou pela via do ensino e da formação.
Passou pela Escola Básica Integrada e Secundária Jean Piaget, em Viseu, Escola Profissional de Leiria e Cenfim – Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica, na Marinha Grande.
“Nunca trabalhei em nenhuma empresa, porque comecei logo a leccionar com 23 anos. Dava aulas de dia e de noite.” A aproximação de André Loureiro à política deu-se quando esteve ligado à Associação Recreativa Batalhense.
“Fui presidente da Direcção, período em que a associação deu um pulo”, recorda. Foi nessa altura que se ligou à JSD e, pouco depois, surgiu o convite para integrar a lista do PSD à Câmara Municipal da Batalha.
No primeiro mandato, desempenhou a função de vereador sem pelouros e, em 2017, voltou a ser eleito, só que, desta vez, foram-lhe atribuídos oito pelouros, entre os quais os do Desporto, da Juventude e do Marketing e Notoriedade.