Tem como título Retirar Salazar de nome de rua e pretende promover o debate, como vista “à remoção urgente” do nome do antigo estadista da toponímia de 22 concelhos do País, entre os quais Ansião, Leiria e Peniche. A petição, lançada na semana passada por um professor de História, contava, na terça-feira, com 746 assinaturas.
Entre os subscritores não estava “nem estará” Manuel Afonso, residente em Monte Real, que desconhecia que a vila tinha uma rua com o nome de Salazar. É uma das principais artérias de povoação e, sensivelmente a meio, junto à Igreja Matriz, entronca com a Rua 28 de Maio, data do golpe de Estado ocorrido em 1926, do qual resultou a queda da Primeira República e a instauração do Estado Novo liderado por Salazar. “
Para mim, o nome da rua é-me indiferente. Incomoda-me mais o trânsito”, diz Cecília Henriques, proprietária de uma loja de calçado localizada naquela artéria, defendendo que “a história não se pode apagar”, substituindo placas toponímicas. José Ferreira junta-se à conversa e adverte para “os incómodos” que uma eventual mudança do nome trairia aos moradores, que teriam de alterar “toda” a documentação. “Que se preocupem antes em acabar com a circulação de camiões no centro da vila”, acrescenta.
Além de Monte Real, Oliveira Salazar tem uma rua com o [LER_MAIS]seu nome em Ansião, também no centro da vila, nas imediações da Biblioteca Municipal. Em Peniche, não há uma rua, mas um bairro com toponímia associada ao antigo estadista: o Bairro Fundação Salazar.
“É patente que a existência do topónimo visa, ou por inércia face ao passado ou por intenção, exaltar, no espaço público de uma democracia, alguém que se assumiu e agiu opressivamente como ditador anti-democrático”, pode ler-se na petição.
No documento, que será enviado aos presidentes das Assembleias Municipais, é pedido que as autarquias “confirmem publicamente a existência, ou não, de tal topónimo” e que divulguem “os documentos em que se baseou a decisão administrativa de atribuir ou manter tal designação num arruamento do concelho”.
A petição propõe ainda que seja promovido o debate público junto da população e dos órgãos autárquicos, “tendo em vista a remoção urgente de tal designação da via pública”.
Em declarações ao Correio da Manhã, o autor da petição questiona se uma democracia deve homenagear a memória de um ditador, que “assumiu ser antidemocrata, que torturou e assassinou”. “Temos de ser tolerantes, mas não temos de tolerar a homenagem a um ditador”, defende Luís Braga.