“Começávamos às seis da manhã, a ouvir os pássaros, e terminávamos a contar histórias, à meia-noite”, recorda o director artístico do Pinhal das Artes, festival para a primeira infância na Mata Nacional de Leiria, perto de São Pedro de Moel, com sete edições entre 2007 e 2014, que na última vez que se realizou, segundo Paulo Lameiro, atraiu “8 a 9 mil” espectadores ao longo de “uma semana inteira de programação”, com 500 performances e “mais de 200 artistas”, incluindo artistas internacionais do Brasil à Europa considerados entre os “que melhor trabalham” para o público dos zero aos cinco.
Apesar de anunciada, a oitava edição do Pinhal das Artes nunca aconteceu. Em Janeiro de 2016, depois de reunir com o secretário de Estado das Florestas e com a cúpula do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a SAMP – Sociedade Artística Musical dos Pousos comunicou o cancelamento do festival apontando que “o risco de segurança” se tinha tornado “muito elevado para permitir garantir as condições adequadas de evacuação em caso de emergência” e que “o uso do espaço público” teria “um custo de acordo com o tipo de utilização”. Entraves levantados pelo ICNF.
O sonho de um regresso ao Lugar das Árvores, que se manteve vivo ao longo dos anos, e que a SAMP e a Câmara Municipal da Marinha Grande continuam a perseguir, sofre agora novo revés, com Paulo Lameiro a afastar-se da iniciativa, pelo menos temporariamente: “Dei por encerrado o meu esforço em mobilizar pessoas e instituições para reactivar o Pinhal das Artes. Nunca faltaram as pessoas. Faltaram as instituições. Parte do que existia nesse evento mítico para tantos irei redireccionar para o LeiriaKids”.
Câmara contactou ICNF
Na perspectiva de Paulo Lameiro, “o Pinhal das Artes não é um objectivo que a SAMP considere prioritário”. E explica: “É um projecto SAMP e quem tem a possibilidade de o reactivar ou não é a instituição que o criou”. Para o musicólogo e pedagogo, não restam dúvidas que “se o Pinhal das Artes fosse importante para a SAMP, estava no activo já há muito tempo”. Daí a decisão de seguir em frente. “Do meu ponto de vista, a SAMP, neste momento, tem outras prioridades e não tendo sido feito o que acho que poderia ser feito para reactivar o festival, mas respeitando totalmente aquilo que são as políticas e as novas directrizes da direcção SAMP, considero que não há interesse nem viabilidade em continuar a lutar por um projecto, se a instituição que o promove não o considera importante”.
Já o presidente da SAMP garante que o Pinhal das Artes “não está morto” e “não é um dossiê fechado”. Aberta a comunicação com o Município da Marinha Grande, “neste momento não há nenhum cenário definitivo”, de acordo com Carlos Lopes. “Temos outros projectos, outras prioridades, mas não tem a ver com isso”, assegura. “Não é a primeira prioridade, mas não saiu dos nossos objectivos”. Nunca em 2025, no entanto. “Não, de todo. Não há tempo útil de planeamento e só havendo desenvolvimentos positivos este ano é que se consegue no próximo ano”, porque o festival “demora quase um ano a preparar”.
O executivo que lidera a Câmara da Marinha Grande, por outro lado, confirma “uma reunião com a SAMP para uma primeira abordagem organizacional do evento” e acrescenta que a autarquia também “já contactou o ICNF tendo obtido informação favorável à colaboração desta entidade na realização do Pinhal das Artes”.
Futuro na Quinta do Faria
Com sede na Caranguejeira, o festival Leiria Kids, entretanto, “vai absorver algumas das ideias e alguns dos princípios” que existiam “no Pinhal das Artes”, diz Paulo Lameiro. “Alguma das coisas que eu fazia no Pinhal das Artes estou a fazer agora no Leiria Kids”, assume. “A edição deste ano do Leiria Kids já vai reflectir, um pouco mais ainda, do que era o Pinhal das Artes”.
Já com três edições, o Leiria Kids decorre na Quinta do Faria, cuja aquisição a Câmara Municipal de Leiria anunciou em meados de 2024.
Ao longo dos anos, segundo Paulo Lameiro, “houve propostas para o Pinhal das Artes poder ser feito noutros espaços, a nível nacional e até internacional”. Por exemplo, a Curvachia, em Leiria, o Bussaco, o Gerês ou mesmo Monsanto, em Lisboa. Hipóteses abandonadas, entre outros motivos, pela falta de ligação com a comunidade SAMP.
“O festival era feito por mais de 200 voluntários que eram famílias que iam às aulas e que tiravam uma, duas semanas de férias”, assinala Paulo Lameiro. “Portanto, para nós, o Pinhal das Artes existe naquele lugar, não sendo possível fazer naquele lugar, então é melhor deixar o Pinhal das Artes nas nossas memórias e ele continuará a dar os seus frutos. Mas fora dali seria outra coisa”.