Em cima da época de risco máximo para fogos rurais e florestais, que oficialmente começa no próximo domingo, 1 de Julho, continuam por limpar grande parte das zonas não ardidas do Pinhal de Leiria.
Oito meses depois do incêndio de 15 de Outubro, e a dias do nível máximo de prontidão definido pela protecção civil, a gestão dos 1.500 hectares da Mata Nacional de Leiria que escaparam às chamas resume-se a pequenas intervenções, nomeadamente, a que está a decorrer em Gaeiras, no limite Oeste da Marinha Grande.
De resto, há muito por fazer. Incluindo em São Pedro de Moel, junto às habitações mais próximas do perímetro gerido pelo ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
"É preocupante porque estamos no Verão e não vamos querer que os outros 14% ardam", diz ao JORNAL DE LEIRIA um técnico que esteve na reunião do Observatório do Pinhal do Rei e da Comissão Científica da Recuperação das Matas Litorais com o secretário de Estado das Florestas, na Marinha Grande, a 18 de Junho. Depois da destruição de 86% do Pinhal de Leiria, o equivalente a 9.500 hectares, cabe a estas novas estruturas de missão colaborar com o ICNF. Tomaram posse em Janeiro, mas só vão concluir os trabalhos em Setembro.
Neste momento, o Estado "está a exigir aos privados um conjunto de medidas que o próprio Estado não garante" nas matas nacionais, acusa Ricardo Vicente, da comissão popular O Pinhal é Nosso. Em causa, a lei de 2006 alterada depois dos incêndios do ano passado e publicada em Fevereiro de 2018 com novas regras para pinheiros e eucaliptos e coimas sobre os proprietários que não cuidem da limpeza dos terrenos ou não assegurem faixas de gestão de combustível e protecção em redor de habitações, instalações e estradas. O prazo terminou a 15 de Março, suspenso até Junho.
Ricardo Vicente aponta o esvaziamento dos serviços dedicados à floresta como um dos motivos da inacção do ICNF. "Não há capacidade instalada para agir sobre a área ardida nem sobre a área que não ardeu", afirma o engenheiro agrónomo, que também integra o Observatório do Pinhal do Rei. "O que se está a passar de mais gravoso" é que os 1.500 hectares da Mata Nacional de Leiria ainda intactos, com zonas de protecção, de produção e de lazer, "continuam sem uma gestão adequada", avisa. Ou seja, persiste o abandono dos últimos anos denunciado pela população, bombeiros e autarcas, fruto da escassez de meios humanos e financeiros, conclui. "Qualquer coisa que tenha sido feita é residual. Esses 1.500 hectares são um risco e já deveriam ter sofrido tratamento. Mas eu quero alertar que não é só no Pinhal de Leiria, toda a faixa litoral, a Mata Nacional do Pedrógão e de Quiaios, estão na mesma".
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Na reunião de 18 de Junho, com o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas, foi apresentado um projecto de gestão para 570 hectares, incluindo zonas não ardidas, nas matas nacionais de Leiria, Casal da Lebre, Urso e Pedrógão.
Os atrasos no arranque das principais intervenções estão alegadamente relacionados com as normas burocráticas dos procedimentos administrativos, que impõem vistos do Tribunal de Contas e abertura de concursos internacionais para contratação, entre outros requisitos.
Até à hora de fecho desta edição, o JORNAL DE LEIRIA continuava à espera de resposta às duas questões enviadas ao Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural: Que acções e investimentos estão previstos nas áreas não ardidas da Mata Nacional de Leiria no domínio da limpeza e gestão de combustível? Quais os motivos que explicam a falta de intervenção, entre o incêndio de 15 de Outubro e a data de hoje, nas áreas não ardidas da Mata Nacional de Leiria?