O que mais impressiona é, provavelmente, o olhar atento e detalhado sobre a paisagem, numa época em que não é possível pintar fora do estúdio, por não existirem tintas fáceis de transportar para o exterior.
As duas obras atribuídas ao italiano Francesco Zuccarelli (1707-1788) surpreendem o visitante no núcleo de exposição “A Biodiversidade na Arte”, mas, no Museu da Comunidade Concelhia da Batalha (MCCB), encontra-se uma outra, também emprestada pelo Novo Banco, da autoria de Jean-Baptiste Pillement, considerado um dos mais importantes paisagistas franceses do século XVIII.
“Passou a maior parte da sua vida a viajar” – comenta a técnica conservadora Ana Moderno – e “embora as composições tenham como ponto de partida a realidade desenhada à vista, a versão final era feita em ateliê”.
As três pinturas a óleo são o objecto do contrato de depósito celebrado em Janeiro deste ano com o MCCB e constituem o caso mais recente de incorporação em museus de obras da colecção do Novo Banco, no contexto do projecto Novo Banco Cultura, iniciado há cinco anos.
Ana Moderno explica que protocolos com instituições e museus de arte “têm permitido o contínuo enriquecimento” da área que o MCCB “destina à divulgação dos diversos olhares dos artistas sobre a Natureza”, missão que “a parceria com o Novo Banco vem reforçar”.
No período barroco, os pintores “observam atentamente” o mundo que os rodeia e “interessam-se por captar e reproduzir os seus diversos matizes”. Avaliadas, globalmente, em 95 mil euros, as obras de Zucarelli e Pillement em exposição na Batalha, potenciam, por outro lado, “acções de investigação e de educação”.
Na semana passada, o MCCB recebeu dois prémios da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), precisamente nas categorias “Actividade escolar” e “Edições”.

O roteiro das pinturas colocadas no distrito de Leiria pelo Novo Banco leva a outros quatro concelhos. No Museu Municipal de Óbidos, está uma natureza morta com cesto de folares, flores e pano bordado (c. 1660) da autoria de Josefa de Óbidos; em Caldas da Rainha, no Museu José Malhoa, encontram-se os quadros “Ao Cair da Tarde” (1881) e “Um Coleccionador” (1888); também de José Malhoa, “Cuidados de Amor” (1905) pode ser visto no Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos; e, no Museu de Leiria, revela-se “Festa na aldeia” (c. 1640-1650), do flamengo David Teniers, o Jovem.
Na região, o processo “contou com o envolvimento do Ministério da Cultura e, em particular, da Direcção Regional de Cultura do Centro”, explica Paulo Tomé, director de comunicação e marca do Novo Banco. A decisão procura “sempre” que as obras “se enquadrem na narrativa dos percursos expositivos ou venham ao encontro das necessidades de cada museu no que respeita ao enriquecimento dos seus acervos”.
Inaugurado em 2018, o projecto Novo Banco Cultura, que, segundo Paulo Tomé, é “uma iniciativa pioneira” com “particular atenção para a descentralização”, tem origem em património proveniente das agências bancárias e das salas de administração. Em situações específicas – Reguengos de Monsaraz, Guarda, Barrancos, Crato, Mirandela, Ourique ou Olhão – impulsionou mesmo “a criação de novos núcleos de pintura”. E a “relação de proximidade com os museus” beneficia do site nbcultura. pt, onde é possível aceder a imagens das obras e textos.
Em cinco anos, foram incorporadas 97 pinturas da colecção do Novo Banco nos circuitos expositivos de 38 museus.
Um exemplo do auge da carreira de Malhoa
Em Figueiró dos Vinhos, a pintura “Cuidados de Amor”, da autoria de José Malhoa, data de 1905 e esteve exposta duas vezes ao longo do século XX, segundo informa o Município: a primeira em 1906, no Rio de Janeiro, na exposição individual de Malhoa no Real Gabinete Português de Leitura, e a segunda em 1983, em Lisboa, na retrospectiva sobre a obra do pintor realizada por ocasião do cinquentenário da sua morte.

“Esta versão dos “Cuidados de Amor” foi pintada por José Malhoa, em 1905, no auge da sua carreira. Malhoa fez vários estudos dedicados a este tema nos anos posteriores. A cena situa-se, muito provavelmente, no jardim do “Casulo”, casa que o pintor mandou construir em Figueiró dos Vinhos e que está localizada junto ao Museu e Centro de Artes”, completa a autarquia.
Uma pintura que gerou um novo olhar em Óbidos
Josefa de Óbidos e o pai, Baltazar Gomes Figueira, trabalharam um repertório comum para determinados temas, como as naturezas mortas. Os modelos de cestos de cerejas, pratos com queijos e flores, taças com bolos e biscoitos, cestos com pão e folares, eram replicados em diferentes composições, numa produção de carácter oficinal, explica o Município de Óbidos.
A natureza morta com cesto de folares, flores e pano bordado (c. 1660) cedida pelo Novo Banco “permitiu repensar parte da colecção permanente do Museu Municipal de Óbidos”, refere a autaraquia, numa resposta por escrito enviada ao JORNAL DE LEIRIA. “A matriz do Museu influi numa divisão ligada aos estilos artísticos do medieval, renascimento e barroco. A concentração de diversas pinturas barrocas numa sala para o efeito, não permitia destacar e valorizar o trabalho de uma das grandes pintoras do barroco português. Foi assim que nasceu uma sala dedicada à pintora, despoletada pela vinda da obra do Novo Banco que permitiu também ter uma peça em bronze executada pelo escultor José Aurélio inspirada na mesma pintura, feita para uma grande exposição sobre a Josefa ,realizada na Galeria Ogiva, em 1972, cruzando o contemporâneo e o antigo, introduzindo uma dinâmica nova no Museu”.

Ou seja, a obra de Josefa de Óbidos da colecção do Novo Banco “foi fundamental para um “novo” olhar na colecção permanente do Museu Municipal de Óbidos”.
Ao Museu José Malhoa, em Caldas da Rainha, o Novo Banco emprestou dois quadros:


E, ao Museu de Leiria, uma obra do flamengo David Teniers, o Jovem:
