Aprovado em 2020 pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o projecto de rearborização para o designado núcleo de Romão, localizado nas margens do rio Zêzere, em Pedrógão Grande, previa a plantação de 4,6 hectares de medronheiros, mas, no seu lugar existem agora eucaliptos.
De acordo com o aprovado, esta espécie de crescimento rápido devia ocupar 11,21 hectares da parcela, que tem quase 16 hectares, mas acabou por preencher toda a área. A “ilegalidade” é denunciada pela Quercus e pela Acréscimo.
Numa posição conjunta, as duas organizações acusam a Celpa – Associação da Indústria Papeleira, promotora do projecto no âmbito do programa ReNascer Pedrógão, de “adulterar” a execução da acção rearborização.
“Na parcela aprovada pelo ICNF, em Setembro de 2020, para a instalação de medronheiro foi confirmada a presença de uma plantação de eucaliptos”, pode ler-se no comunicado da Quercus e da Acréscimo, a que o JORNAL DE LEIRIA teve acesso.
No documento são também denunciados os “fortes impactos” decorrentes da “extrema mobilização” de solos na parcela em causa, localizada em Reserva Ecológica Nacional e abrangida pelo Plano de Ordenamento das Albufeiras de Cabril, Bouçã e Santa Luzia, que determina que, ao longo das linhas de água, “as espécies folhosas autóctones constituam pelo menos 30% dos novos povoamentos”.
A Quercus e a Acréscimo criticam ainda o facto de os eucaliptos terem sido plantados “até aos limites de caminhos e aceiros” e com recurso “à construção de terraços em plena margem direita do rio Zêzere”, provocando “um significativo acréscimo do risco de erosão”.
As associações apontam ainda o dedo à “incapacidade do Estado, nomeadamente do ICNF”, pela falta de fiscalização das acções de arborização que autoriza. Uma lacuna que se “converte num prémio à especulação e à infracção com consequente aumento da expansão de eucalipto”, acusam.
Confrontada com a situação, a Celpa reage com “total surpresa”, assegurando que os projectos que coordenou na região de Pedrógão Grande “foram estritamente cumpridos em todas as suas dimensões”, ao nível das “espécies plantadas, bem como a sua localização e salvaguarda das distâncias obrigatórias por Lei aos diversos elementos da paisagem”.
No esclarecimento enviado ao JORNAL DE LEIRIA, a Celpa garante ainda que, apesar de “não ser formalmente responsável pela manutenção das áreas em causa”, irá “de imediato despoletar os mecanismos apropriados junto do ICNF, por forma a que, se alguma característica do projecto foi alterada após a sua plantação, a situação poder ser de imediato reposta”.
Projecto das celuloses com comunidade local
O projecto ReNascer Pedrógão é promovido pela Celpa, em parceria com a Associação dos Produtores e Proprietários Florestais (APFLOR) do concelho, envolvendo também os donos de terrenos.
Num vídeo divulgado pela Celpa explica-se que o objectivo passa por “ajudar os pequenos proprietários a contrariar o abandono” das terras e a ter uma “nova, melhor e mais resiliente floresta”.
“Não é mais um plano, não é mais um projecto vendido. Há obra, obra feita”, diz Tânia Ferreira, representante da APFLOR, nesse vídeo onde surgem também testemunhos de privados e da presidente da Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrogão Grande, Dina Duarte.