Praticante de BTT e amante de caminhadas, há algum tempo que Raul Moreira juntou ao seu equipamento desportivo habitual dois acessórios, que se tornaram indispensáveis: saco e luvas de plástico, que usa para ir apanhando lixo durante a sua prática desportiva.
Começou sozinho, nas margens do rio Lis e na praia da Vieira e acabou por descobrir que aquilo que fazia naturalmente, por se sentir incomodado com a quantidade de resíduos com que esbarrava no dia-a-dia, até tinha um nome.
Chama-se plogging e associa os prazeres do exercício físico à limpeza dos locais por onde se passa, numa lógica de mente sã em corpo são, aliada a um planeta mais limpo.
Impulsionado por outros exemplos que ia conhecendo através da internet, Raul Moreira criou, em 2019, o Plogging Vieira de Leiria, um grupo de facebook que viria a dinamizar várias acções de limpeza. Entretanto, veio a pandemia e as iniciativas de grupo foram suspensas, mas, segundo diz, ao objectivo principal estava cumprido.
“Deixámos a mensagem e hoje já vejo pessoas que nas suas caminhadas recolhem algum lixo. É uma gota de água no oceano, mas podemos fazer alguma diferença.”
Esse é também o espírito com que Zito Camacho encara a recolha de lixo que faz quer em terra,[LER_MAIS] nas caminhadas no percurso Polis, em Leiria, quer em mar, quando pratica mergulho e pesca submarina.
É verdade que dentro de água “não não dá para trazer muita coisa”, devido ao equipamento, mas há quase sempre espaço para resgatar algum plástico do oceano.
“Grama a grama, podemos dar a nossa ajuda”, defende Zito Camacho, que começou a apanhar lixo enquanto caminha há “cerca de nove anos”. Reconhece que hoje “há mais limpeza”, mas mesmo assim é frequente encontrar garrafas de plástico, pacotes de maços de tabaco e papéis no trajecto que faz habitualmente ao longo do Polis.
“Há mais consciência ambiental e maior pressão social nesse sentido, mas ainda não é suficiente”, alega Zito Camacho, referindo que, agora, também se vêem muitas máscaras espalhadas pelo chão.
E “não é por falta de caixotes de lixo”, afiança Claúdia Tonelo, que perdeu a conta aos sacos de resíduos que já resgatou das ruas de Caldas da Rainha, onde reside, enquanto passeia as duas cadelas ou faz as suas caminhadas.
Conta que anda sempre com sacos e luvas na mochila, reaproveitando aqueles que usa na compra do pão, e que o faz por “uma questão cívica e ambiental”. É, admite, também uma forma de “juntar o útil ao agradável”, ou seja, “o cumprir um dever de cidadania, contribuindo, mesmo que em pequena escala, para o Mundo um pouco melhor, e de fazer algum exercício físico”.
“Quem suja, jamais vai limpar”
Na cidade de Caldas da Rainha foi recentemente criado um grupo “informal” de plogging, com a dinamização de uma página no facebook para a “partilha” de experiências.
A iniciativa partiu de um amante de desporto – que pede para não ser identificado -, que andava “há mais de 20 anos com a ideia na cabeça” de associar a prática de actividade física à componente ambiental.
“Chocava-me a quantidade de lixo que encontrava nos meus percursos de corrida ou de bicicleta. Mas, a verdade é que nunca fiz nada.” Nunca, até ao dia em que entrou num loja de utilidades e comprou uma caixa de luvas, “um pega-monstros” – nome que dá à pinça para apanhar lixo do chão sem dobrar as costas – e pôs mãos à obra.
A decisão iniciou-o também nas caminhadas, uma actividade que, até então, não o seduzia muito, mas que agora faz nos dias de recuperação da corrida, juntamente com esposa.
“Prefiro a corrida, mas não é tão prático para recolher lixo. A correr, faço opções. Por exemplo, só apanhar garrafas de plástico 1,5 litro e deixar o resto. Às vezes, em menos de três quilómetros encho o saco”, refere o promotor do grupo Plogging Caldas.
Ele que não é utilizador de redes sociais, mas que criou a página, sobretudo com o objectivo de promover o conceito e, quem sabe, “atrair mais pessoas” para esta prática.
“Quem suja, jamais vai limpar. Se tivessem essa consciência, nunca sujariam. Ou fazemos algo para deixarmos o mundo um pouco melhor ou assumirmos a posição mais confortável de passar para as entidades públicas essa responsabilidade. A minha convicção é que pelo exemplo vamos também aumentar a pressão sobre as autarquias”, defende o promotor do Plogging Caldas.