George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de Maio, em Minneapolis, nos Estados Unidos da América, depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.
Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, algumas das quais foram palco de actos de pilhagem.
Por cá, milhares de pessoas saíram, na semana passada, às ruas de Lisboa, Porto e Coimbra contra o racismo e a violência policial, replicando protestos realizados noutros países.
Num dos cartazes, alguém escreveu: “polícia bom é polícia morto”. A mensagem levou a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP) a apresentar queixa no Ministério Público. Perante este contexto, o JORNAL DE LEIRIA foi tentar perceber como se sente a polícia perante a comunidade.
Paulo Rodrigues, presidente da ASPP/PSP, entende que o cartaz foi um “acto isolado” e desgarrado da organização da manifestação. “Não podemos confundir as coisas. O motivo da manifestação faz todo o sentido e devemos combater o racismo. Aquele cartaz não contribui para melhorar a actuação da polícia. Pelo contrário, só incentiva ao ódio”, constata.
Recordando um estudo elaborado pela Universidade Fernando Pessoa, Paulo Rodrigues afirma que mais de 90% das pessoas tem uma boa imagem da PSP e considera que houve “uma evolução grande nos últimos tempos, com agentes mais jovens e uma postura mais adequada”.
O estudo revelava ainda que os cidadãos entendiam que, por vezes, a PSP não fazia mais “porque não podia”, ou “por falta de meios ou pelas políticas superiores”.
Afirmando que “a PSP não vem de Marte” e que os agentes “são reflexo da sociedade”, Paulo Rodrigues admite que possam existir casos de racismo, mas serão “pontuais”, até porque “há uma filtragem e um conjunto de testes que são realizados antes da entrada na polícia”.
O presidente da ASPP/PSP reforça que a “maioria das pessoas compreende” o trabalho realizado pelas forças policiais, o que é evidenciado nas mensagens recebidas ou no apoio que sentiram quando se manifestaram em frente à Assembleia da República, como relata Rui Gaspar, agente de Leiria, que também pertence à ASPP. “Durante a viagem até Lisboa, as pessoas mostraram o seu apoio e afirmavam que estavam do nosso lado.”
[LER_MAIS] A percepção de Rui Gaspar é precisamente a de que a população respeita o trabalho da polícia e, tirando algumas excepções, não costumam ser mal recebidos quando têm de intervir.
“Claro que nos bairros mais sensíveis, a situação pode ser um pouco diferente, mas não me parece que, na generalidade, haja ódio à polícia”.
Também Rui Gaspar considera que não há racismo na PSP. “Há sempre situações de excepção. Mas, se há casos de racismo devem ser identificados e denunciados para que se possa actuar disciplinarmente.”
Para o agente, o problema que às vezes enfrentam é os suspeitos assumirem que estão a ser detidos, não pelo crime cometido, mas pela cor ou etnia. “A nossa abordagem é feita de acordo com a ocorrência, independentemente da raça ou credo. Não pedimos a identificação a ninguém simplesmente pela cor ou etnia e a intervenção que é feita com estes cidadãos é a mesma que a fazemos com qualquer outra pessoa.”
Paulo Rodrigues sublinha que o agente “quando persegue um suspeito não está preocupado co m a cor ou etnia. O objec tivo é detê-lo para fazer cumprir a lei.”
A agressão a uma mulher de origem africana, em Lisboa, em Fevereiro deste ano, originou c rític as à actuação policial. Para evitar dúvidas sobre o comportamento dos agentes, Paulo Rodrigues e Rui Gaspar defendem o uso das bodycams. “A polícia deve ser escrutinada e avaliar o que correu mal, para se melhorar. Muitas vezes, só são veiculadas pequenas partes e avalia-se a situação como um todo. As bodycams iriam resolver muitas situações, pois ter-se-ia acesso a toda a actuação e poder-se-ia avaliar se o agente esteve bem ou mal”, afirma Paulo Rodrigues.
Além disso, “o polícia, sabendo que a sua actuação pode ser visionada terá uma maior preocupação com o seu comportamento”. Sem dar a cara, uma agente de origem africana garante que nunca sentiu racismo, nem na corporação nem da parte da sociedade ou até de criminosos.
“As pessoas são educadas e, na generalidade, a polícia é bem vista na comunidade. Por vezes, os criminosos é que dizem que os estamos a prender pela cor ou etnia, mas qualquer cidadão que cometa o mesmo crime também será detido”, sublinha.
Outro agente com vários anos na PSP também confirma que a actuação da polícia não conhece cor ou etnia. “Já trabalhei com colegas negros e já tive comandantes de origem africana e nunca houve problema algum. Não me parece que haja racismo na PSP.”
Concordando com a colega na vitimização dos autores de ilícitos, o agente sublinha que, por exemplo, na questão do ruído, tanto intervém num bairro social ou num condomínio de luxo.