Polido, Marinha Grande. Tem base em Lisboa, viveu em Berlim e antes no Porto, mas tanto nos serviços de streaming como no Bandcamp e no site polido.info continua a colocar em relevo a cidade industrial de resistência antifascista de onde saiu com 18 anos para estudar som, imagem e teoria crítica.
O corpo de trabalho manifesta-se através de concertos, instalações, performances, textos, sessões de escuta, sonoplastia para cinema, teatro e outras artes, misturas e edições de música, em que, a partir de uma perspectiva materialista do som, João Polido Gomes aborda questões de memória cultural, tradição, tecnologia sonora e intersecções entre a história da música e a sócio-política. Dá aulas na Universidade Católica do Porto, dirige a editora Projecto de Vida e ocasionalmente intervém como programador, por exemplo, no Batalha Centro de Cinema, em parceria com Diana Policarpo. A solo ou em colaboração, nos últimos anos o portefólio do músico e artista multidisciplinar inclui ligações ao Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT) de Lisboa, Institute of Contemporary Arts (ICA) de Londres, 12ª Berlin Biennale e outros momentos em Portugal, Holanda, Noruega, Alemanha, Suécia e Bélgica.
Estreia com a Fade In
Pela primeira vez, Polido apresenta- se ao vivo em Leiria (também nunca tocou na Marinha Grande) e a oportunidade surge este sábado, 26 de Julho, na Black Box (início às 18:00, uma hora antes do concerto de Beautify Junkyards) pela mão da Fade In e no âmbito do 5.º Ciclo de Música Exploratória Portuguesa, que decorre até Novembro.
Enquanto compositor, Polido usa gravações pessoais e samples sobretudo para unir narrativas e lugares. “Aquilo que me interessa, pessoalmente, é música que demonstre um contexto”, diz ao JORNAL DE LEIRIA. “Que tem alguma segurança acerca do sítio de onde vem ou que está a tentar mostrar alguma coisa que ainda não foi bem vista”. No processo, frequentemente experimental, entram aspectos reconhecíveis que podem ser transformados ou enfatizados. “Há uma preocupação estética e simbólica sobre as fontes que escolho”.
Liberdade e pirataria
De álbum para álbum, sobrevive uma ideia maior: música livre. “Serve como ponto de partida, não necessariamente um fim”, que significa, “a priori, não fazer música com um género em mente”. Por outro lado, “a dimensão política” e “independência” do “modus operandi” reflectem-se na maneira de criar, distribuir e partilhar a obra. “Prefiro que as pessoas tenham acesso à minha música através de pirataria, daí eu nunca ter música no Spotify”.
O que também não tem – até à data, pelo menos – são apoios públicos. “Nada produzido com o selo da DGArtes ou da República Portuguesa”. Se, no caso do Spotify, a rejeição se relaciona com o que João Polido Gomes considera “uma necessidade completamente artificial” fomentada pela plataforma, e um modelo de negócio sujeito a “controlo enorme pelas majors” ao mesmo tempo que “as condições económicas dos músicos só se tornam cada vez mais precárias”, a circunstância de não recorrer a subsídios do Estado prende-se com a preferência por usar meios próprios em projectos sustentáveis, visão que partilha com a editora Holuzam, pela qual lançou o álbum mais recente, Hearing Smoke, de 2024.
No concerto do próximo fim-de-semana, no entanto, Polido deverá basear-se exclusivamente em novas composições. Incluindo, temas do disco Elegias Sucessivas, em que está actualmente envolvido e em que procura materializar “tributos codificados em som”.