Liliana Reis, 25 anos, e Xavier Correia, 21 anos, são uns verdadeiros guerreiros. Resiliência e determinação fazem parte da sua ainda curta história de vida.
Desde pequenos que se habituaram a lutar pelos seus direitos e lamentavam os olhares de lado e a discriminação de que acabavam por ser alvo não só por parte de colegas como até de professores, que nem sempre lhes permitiam usufruir das condições especiais de aprendizagem a que têm direito.
Foi no Politécnico de Leiria que se sentiram iguais a todos os outros estudantes. Em Fevereiro, a instituição de ensino superior tinha 239 alunos com necessidades educativas específicas permanentes e oito com necessidades específicas temporárias.
Os principais diagnósticos dos estudantes com necessidades específicas estão relacionados com a dislexia, incapacidade motora, baixa visão, ansiedade e depressão, estes dois últimos com tendência a aumentar, segundo Carolina Henriques, pro-presidente.
Para Liliana e Xavier, a escola foi um percurso com algum sofrimento à mistura, mas sempre com uma enorme determinação de quem conhece o seu valor e sabe o que quer. Tudo melhorou quando chegaram ao ensino superior.
O Politécnico de Leiria proporcionou-lhes desde o primeiro dia todas as condições que necessitavam para terem sucesso nos estudos. Hoje, Liliana está formada em Educação Social e Xavier concluiu a licenciatura em Solicitadoria. Aventurou-se num novo desafio e está a frequentar o mestrado em Solicitadoria de Empresa.
“Entrei no Politécnico de Leiria através do concurso geral de acesso e foi com surpresa que percebi que não era necessário lutar pelos meus direitos, como estava habituado. Foi-me dado o estatuto para os três anos”, afirma Xavier Correia.
O jovem recorda os tempos de liceu, onde os professores nem sempre levavam a sério a sua dislexia, défice de atenção e baixa visão. “Por exemplo, tenho necessidade de ter sublinhados a negrito porque me ajuda a não perder o foco e ter as letras maiores, com mais espaço entre as linhas”, exemplifica, ao adiantar que lhe foi atribuído um gestor de caso, que elaborou um relatório para que todos os docentes tivessem conhecimento das dificuldades de Xavier.
O jovem revela ainda que nunca procurou o caminho mais fácil. Apesar da dislexia, seguiu a área das Humanidades, que obrigam a mais escrita e leitura e orgulha-se de ter superado as dificuldades. “Fui para algo que gostava.”
O mesmo sucedeu com Liliana, que optou por ciências e tecnologias, superando, inclusive, as dificuldades que teve com a matemática.
Tratados como iguais
O relacionamento com os colegas também foi bastante diferente. Depois de anos em que chegou a ser ‘gozado’, na Escola Superior de Tecnologia e Gestão passou a ser olhado apenas como o Xavier. “Houve colegas que nem se aperceberam de nada. Sempre me trataram como um igual. Foi preciso chegar à universidade para me sentir integrado.” Liliana adiou o mestrado por uns tempos.
As questões de saúde de que sofre obrigaram-na a uma cirurgia recente, a 33.ª, mas o seu percurso foi de sucesso e também de integração. “Foi um choque positivo. Vinha de um contexto e de uma escola onde estive dez anos e sofria de discriminação de colegas e professores. Ao chegar ao Politécnico de Leiria deparei-me com professores profissionais, comunicação e abertura. Aqui não tive de lutar pelos direitos. Eles simplesmente apareceram”, conta.
Durante o ensino básico e secundário, os pais lutaram arduamente para que lhe fosse facultado um tempo extra nos testes, tendo em conta a dificuldade física que limita a sua capacidade de escrever. “Muitas vezes ignoravam.”
Assumindo-se como uma pessoa “bastante reservada”, a jovem de Ourém começou a derrubar os muros à sua volta e a abrir-se. A maioria dos colegas foi sempre colaborativa em tudo o que precisava. Liliana e Xavier lamentam que tenham sido obrigados a lutar desde sempre e que pouca coisa se tenha alterado ao longo dos tempos.
“O que mudou foi o conhecimento que aumentou, mas as instituições não acompanham”, apontam. Os jovens consideram que ainda há barreiras na sociedade que têm de ser ultrapassadas. Serão transpostas com “mais diálogo, saber ouvir o outro, estar disposto a partilhar e respeitar”.
Liliana lamenta ainda que, apesar de a deficiência ser física, as pessoas a julguem pela capacidade intelectual. Foram várias as vezes que ouviu dizer: ‘és mediana, não consegues’”. Frases que arrasavam a sua auto-estima.
O seu objectivo é integrar um estágio profissional para ganhar experiência e poder fazer algo pelas pessoas com deficiência, ajudando-as a alcançar os direitos que lhes são devidos.
Para Liliana e Xavier, o lema é que não existem limites e a frase ‘não consigo’ não faz parte dos seus desígnios. “Se não falhares não estás sequer a tentar. Tudo é tentativa e erro”, acrescenta Xavier.
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