Meu Caro Zé,
O que se passa no país e no mundo no campo da política, que se tornou no espaço do “vale tudo”, com a consequente alienação de muitas pessoas e o extremismo de muitas mais, a maioria das quais, por ser explorada ou mesmo descartada, nada tem a perder, e uma minoria (uns quantos afinal) donos (os que se querem manter à tona) e outros potenciais donos (os que querem ganhar eleições, serão mesmo eleições?) a explorar os sentimentos dessa maioria para atingir os seus fins.
No fim-de-semana dei-me ao trabalho de verificar se isto era política. E rapidamente percebi que, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, é, afinal, “politiquice” definida, e cito, como “ato de politiqueiro; política ordinária, mesquinha”. E como a primeira informação remete para os atos do “politiqueiro”, fui ler o que diz sobre ele. E aqui vai a citação (com a indicação prévia no próprio dicionário de que se trata de um termo depreciativo): “Que ou aquele que se ocupa muito de política partidária ou que, em política, emprega processos pouco corretos”.
Desde logo assusta a alternativa entre muita política partidária (o sublinhado é meu) e processos pouco corretos, um termo considerado depreciativo. Mas, quem olha para a vida real, estranhará assim tanto?
Não contente com este cenário, fui, no mesmo dicionário, ler o significado de “política”, passando, previamente, pelo Dicionário de Étimos que referia ser o termo proveniente do grego, significando “a ciência dos negócios do Estado”.
No Dicionário da Língua Portuguesa a definição é extensa, pelo que me permito citar apenas uma parte: “Ciência ou ato [LER_MAIS] de governar os povos ou nações”, mas também, “esperteza, finura, maquiavelismo”.
Confesso que fiquei desanimado e a ter de escolher o que por aí vejo, parece-me que “arte”, “esperteza” e “maquiavelismo” serão os termos mais aplicáveis ao que se passa. Mas preocupei-me mesmo em termos conceptuais porque sempre pensei que a política tinha objetivos específicos de aplicação com a finalidade da obtenção do bem público, sem discriminação entre grupos e pessoas.
E daí fui à Enciclopédia Britânica (Vol. 14, 1983) na conclusão da “entrada” Filosofia Política li (a tradução é minha): “A história da filosofia política desde Platão até aos dias de hoje torna claro que a moderna filosofia política se defronta com os problemas básicos definidos pelos gregos.
A necessidade de reafectar o poder público em ordem a manter a sobrevivência e melhorar a qualidade de vida humana, por exemplo, nunca foi tão essencial. E se as oportunidades para promover o bem-estar são agora maoires, as penalidades pelo abuso do poder são nada menos que a destruição ou enorme degradação de toda a vida no planeta”.
Esta citação já tem 35 anos: temos tido políticos ou “politiqueiros”? É uma questão que se põe hoje, em particular quando as “habilidades eleitoralistas” já se perfilam por todo o lado. E o bem público, onde anda?
Até sempre,
*Professor universitário
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990