A população de Amor, no concelho de Leiria, reivindica contrapartidas para a freguesia pela instalação de uma central de biometano, que irá tratar e valorizar efluentes agro-pecuários. A exigência foi expressa numa sessão de esclarecimento, realizada na semana passada, onde vários moradores manifestaram preocupação pelos eventuais impactos da unidade, receando que possa gerar maus cheiros e que aumente a circulação de camiões dentro das povoações.
Em resposta, os responsáveis da Génia Bioenergy, empresa espanhola que, em parceria com a Repsol, vai investir cerca de 35 milhões de euros na unidade, asseguraram que a tecnologia a adoptar “já está testada e validada” e “inibe a existência de odores”. “É uma garantia absoluta: a unidade não produz cheiros”, garantiu Amândio Santos, coordenador da empresa em Portugal, frisando que o despejo dos efluentes na unidade acontecerá num pavilhão “hermeticamente fechado”.
“Não há odores”, complementou o presidente da Junta de Amor, que integrou uma comitiva que, em Fevereiro, visitou uma unidade em Espanha similar àquela que será construída na freguesia.
A exigência de contrapartidas como forma de compensar a freguesia por eventuais impactos foi colocada por vários moradores, entre os quais Célia Mota. “Ficamos com a unidade, tratamos os efluentes dos outros e no final ganhamos ‘bola’”, criticou a moradora.
Confrontados com a reivindicação, os representantes da empresa manifestaram abertura para contrapartidas, comprometendo-se, desde já, a atribuir “à comunidade local uma quota do bio-fertilizante” a produzir na unidade.
Também a água que resultar do tratamento e valorização dos resíduos – “cerca de 95% do efluente suinícola é água” – será disponibilizada para rega e para o combate a incêndios, depois de tratada.
Em relação aos camiões que transportarão os efluentes para a central, Luís Lopes, vereador da Câmara de Leiria, adiantou que se encontra em estudo a criação de um acesso à futura unidade a partir da EN109, para que evitar qaa circulação seja feita pelo interior de Amor. “Em sede de avaliação ambiental será definido o trajeto a usar pelos camiões”, acrescentou.
Outra das dúvidas colocadas por moradores prende-se com a possibilidade de, mesmo com a unidade a funcionar, continuarem a ser feitos espalhamentos nos campos e haver deslocalização de suiniculturas para Amor, de forma a ficarem mais próximas da unidade.
“Quase 100% do caudal produzido [no concelho] está comprometido com este projecto. Os produtores não têm interesse em desviar o efluente da unidade, porque terão de o pagar, quer o entreguem, quer não o entreguem”, assegurou David Neves, presidente da Associação de Suinicultores de Leiria.
“Se funcionar 10% daquilo que vi em Córdoba, ficaremos muito melhor do que estamos”, afirmou Mário Ruivaco, um dos moradores que visitou a unidade em Espanha, lembrando que a freguesia sofre há anos com os espalhamentos dos efluentes nos campos e a degradação da qualidade da água do rio.
O mesmo foi sublinhado por Sérgio Duarte, da associação ambientalista Oikos, que acredita que a unidade poderá “resolver um problema que não é só de Amor, mas do concelho e da região”. O dirigente salientou ainda a importância da comissão de acompanhamento a criar para monitorizar o desenvolvimento do projeto e o funcionamento da unidade, que operará durante 30 anos.