O nosso é o país europeu que mais consome arroz e o quarto maior produtor, contudo, a concorrência de outros países e a ausência de mecanismos para valorizar o cereal nacional está a levar a grandes perdas.
Os produtores calculam que, no último ano, o prejuízo, para o qual também contribuíram os custos de produção, foi superior a 30 milhões de euros.
No Louriçal, os orizicultores juntam a sua voz ao coro que contesta o aumento destes custos e a descida do preço do arroz.
“O valor pago ao produtor é metade do ano passado. Passámos de 60 para trinta e poucos cêntimos”, diz José Pereira, que explora vários campos no concelho de Pombal.
O combate às espécies infestantes, como a milhã, que se apresentam, de ano para ano, mais resistentes aos herbicidas, também pesam no momento de contabilizar os custos da produção do cereal, sendo necessário mondar mais vezes os campos.
A situação é tão grave que as associações nacionais de produtores estão mesmo a pedir, entre outras medidas, a adopção de um “pousio sanitário”.
Parte da esperança para os orizicultores da região deposita-se na conclusão das obras de regadio no Baixo Mondego, em especial na área que se estende até à Quinta do Seminário e que se encontra quase completamente realizada.
“Já estamos a receber cartas por causa do emparcelamento, empreendimento que iniciou em 2005. Se demorar muito mais tempo, arriscamos a não estar cá, quando o terminarem”, afirma José Pereira, apontando ainda a falta de previsão de verbas para a conclusão do processo.
O empresário também defende a melhoria da rotulagem do arroz carolino nacional, como pretende a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), a fim de promover, junto do consumidor, o arroz nacional, combatendo o desconhecimento sobre as potencialidades do arroz, num momento onde os portugueses valorizam mais o baixo preço do arroz do que a sua origem.
“Boa parte do arroz carolino que se consome não é nacional, mas tem com como origem a Itália, o Leste e a China”, denuncia.
São os produtores externos ao espaço europeu quem preocupa mais os produtores que, há duas semanas, foram ao Parlamento pedir mais acção para as pessoas que também têm um papel no ambiente.
O presidente da Associação dos Agricultores do Baixo Mondego (AABM), José Manuel Pinto da Costa, recordou mesmo aos deputados que os orizicultures são “guardiões das paisagens e ecossistemas”, pedindo “sensibilidade” a quem decide, sublinhando que as dificuldades e retorno magro estão a afastar os jovens deste ramo agrícola, sendo que a média de idades dos produtores está nos 67 anos, uma das mais altas da Europa.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, cada português consome em média 15,1 quilos de arroz branqueado e semibranqueado por ano, o maior valor per capita na Europa e o país produziu, tendo em conta a média dos últimos anos, cerca de 160 mil toneladas anualmente. Vinte por cento deste cereal tem como origem as bacias dos rios Lis e Mondego.