Chegou do Brasil há 20 anos. Mas depois de duas décadas a residir em Lisboa, Alba Mota decidiu agora mudar-se para a região de Leiria. Quando deixou Minas Gerais há 20 anos, com as filhas, Alba procurava uma vida melhor do outro lado do Atlântico. Dois anos antes já o marido se tinha mudado para Lisboa, onde arranjou trabalho como serralheiro, que era de resto a sua ocupação principal no Brasil.
No entanto, mais recentemente, por intermédio do patrão, o marido de Alba ficou a saber que na zona de Leiria existem muitas industrias onde a sua função é mais bem paga. Moram actualmente em Calva- ria de Cima (concelho de Porto de Mós) e o marido trabalha numa empresa dos Pousos (Leiria).
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Alba Mota explica que não foi difícil encontrar casa e que a primeira impressão das pessoas é bastante positiva. Não era essa a sua perspectiva quando quando chegou a Portugal há 20 anos. “Foi difícil a adaptação, havia racismo. Todas levávamos o rótulo de prostitutas”, recorda Alba. Cozinheira aposentada, recorda que dificilmente uma brasileira tinha autorização para mexer na caixa registadora. Mas as mentalidades parecem ter mudado entre os portugueses: “nestes 20 anos as coisas evoluiriam muito. Há até patrões que preferem contratar brasileiros para trabalhar com o público, por- que somos mais dados”, justifica.
Esta é também a opinião da sua filha Kivia Mota, condutora de pesa- dos de mercadorias que se dedica aos percursos internacionais. Além de Alba, do marido e das filhas, o clã dos Mota está hoje aumentado com a chegada dos netos, que já nasceram em Portugal. O Brasil tornou-se entretanto um destino para férias, que se visita muito de vez em quando para reencontrar familiares. Regressar está fora de questão para esta família, para quem as questões políticas e de emprego do lado de lá estão uma “lástima”.
Foi a pensar também em proporcionar um futuro melhor às filhas, que Amanda Gardim, de 38 [LER_MAIS] anos, juntamente com o marido e a sogra, trocaram o Paraná, no Brasil, pela cidade de Leiria. Chegaram a Portugal no passa- do dia 16 de Março e todos encontraram trabalho em poucos dias. O segredo do êxito, considera Amanda, foi ter planificado bem a saída do Brasil e todo o percurso a fazer em Portugal.
Uzbeques são a 10.ª maior comunidade
De acordo com os dados mais recentes do SEF, a lista das maiores comunidades estrangeiras a residir no distrito de Leiria são: em primeiro lugar os brasileiros (com 3694 cidadãos); em segundo lugar os ucranianos (com 3230); em terceiro os ingleses (1625); em quarto os romenos (1186); em quinto os chineses (1079); em sexto os franceses (898); em sétimo os indianos (416); em oitavo os holandeses (402); em nono os italianos (390) e em décimo lugar os uzbeques. Os 316 uzbeques que vivem no distrito de Leiria correspondem a cerca de um quarto dos cidadãos naturais do Uzbequistão que escolheram residir em Portugal, e que rondam um milhar. Localizado na Ásia Central, o Uzbequistão tem cerca de 447 mil metros quadrados (quase cinco vezes mais do que Portugal) e aproximadamente 32 milhões de habitantes, 60% dos quais com menos de 25 anos, segundo refere o site da embaixada em Madrid. Em termos religiosos, é um país “laico”, onde a maioria da população é muçulmana. A língua oficial é o uzbeque, embora o russo também seja muito usado.
O casal demorou cerca de um ano a pesquisar sobre vários países e as respectivas oportunidades em diferentes pontos da Europa. Amanda encontrou rapidamente emprego num café e com o marido aconteceu tudo igualmente rápido. Arranjou logo emprego como soldador, que era já a sua profissão no Brasil.
“O meu país é um lugar lindo. Mas é inseguro e estudar sai muito caro”, salienta Amanda, que pretende que a filha mais velha, de 18 anos, possa prosseguir estudos superiores em Portugal. “Estou a gostar muito dos portugueses e a minha patroa trata-me muito bem. Não tenho do que reclamar”, sublinha.
Existem apenas dois contra- tempos em Portugal e em Leiria em particular. Um deles foi encontrar casa, já que as rendas na cidade são muito altas. Outra dificuldade é alcançar a condição de estrangeiro residente. Esse processo está muito demorado, lamenta.