Um clube “desassossegado”, que volte a “mexer” e que ande nas “bocas da cidade” é a forma como José Maria Querido quer ver o Atlético Clube da Sismaria (ACS) nos próximos anos. Virado para todos, o presidente recentemente eleito acalenta o sonho de concretizar o projecto de uma sede que seja mais do que um espaço de encontro.
O esboço está colocado na parede da sede do ACS e passa por criar mais um piso e estender o edifício, criando espaço para se realizarem várias actividades. “Já temos uma casa nova e nossa. Já é uma grande vantagem. Mas o objectivo é fazer mais um piso. Na parte de baixo seria um salão e a parte de cima teria salas, um bar e, se possível, um mini-ginásio. No résdo- chão poderíamos fazer uma série de coisas, como actividades para a terceira idade e para a primeira e segunda infâncias. Há muitas crianças que não gostam de andebol mas têm necessidade de outras actividades”, afirma José Maria Querido ao JORNAL DE LEIRIA.
O dirigente, que regressa ao clube após um afastamento de cerca de 25 anos, quer garantir parcerias com as duas escolas do 1.º ciclo da zona, assumindo, por exemplo, as actividades extracurriculares. “Poderemos ser o tal oásis que não existe aqui. Se olharmos ao redor de três a quatro quilómetros só temos hipermercados, lojas de chineses e prédios. Além de ser de necessidade enorme para o ACS e para as pessoas da Estação, é também uma obra necessária para a cidade”, constata.
Segundo José Maria Querido, a pandemia demonstrou a utilidade que os espaços das colectividades podem ter para estarem ao serviço público. [LER_MAIS]“Numa situação de emergência poderemos adaptar o espaço”, sublinhou ao salientar que o ACS poderia ainda receber alguns dos eventos culturais organizados pela autarquia.
Dar “intemporalidade” ao clube e “transformá-lo num espaço de cidadania” são outras ambições do novo presidente. “Tenho esperança que o nosso sonho seja patrocinado pela Câmara e pela Junta, porque já merecemos ser alvo de uma discriminação positiva. Sem esse apoio não é possível concretizar o projecto, porque não temos capacidade de endividamento”, desabafa.
Andebol é para subir
A equipa de andebol sénior , que disputa a 2.ª Divisão nacional de andebol, voltou a perder na última jornada e tem a sentença da descida de divisão confirmada. José Maria Querido garante que o objectivo é manter este grupo para lutar pela subida já na próxima época desportiva. “A nossa ideia é manter tudo o que temos, mas com uma condição, o andebol, como qualquer outra actividade aqui nesta casa terá de ser sempre sustentável e ter um grande rigor financeiro, porque só assim é que nós conseguimos mantê-lo em toda a sua plenitude”, assegura, admitindo que o ACS não tem condições para pagar aos jogadores.
“A nossa mais-valia são os sentimentos e o carinho que temos para com os nossos atletas e por todas as pessoas que trabalham no andebol. O que nos falta em capacidade material supera em capacidade sentimental, de carinho e de apoio.”
José Maria Querido promete motivação ao grupo e deixa uma mensagem: “por vezes, temos de dar um passo atrás para dar dois à frente”. “Também é importante que eles saibam que nós gostamos deles a ganhar e a perder. O que pretendemos é que, para o ano, entremos com mais força e lutemos para subir. Não podemos esquecer que os homens vêem-se não na forma como caem, mas como se levantam. Este é o nosso lema”, acrescenta o dirigente, ao reforçar que o clube “precisa de todos os actuais jogadores”.
“Acredito que vamos voltar ao nosso lugar e teremos uma época brilhante. Há que aprender que na vida há ganhar e perder e ninguém ganha sempre”, precisa o dirigente.
As camadas jovens vão também continuar à procura de atletas, no “combate” contra a internet, “um dos principais adversários na captação de jovens”. Aliás, o presidente alerta para o problema de saúde pública dos jovens que “se vai acentuar” pelo sedentarismo dos mais novos, que ficam em casa sentados em frente ao computador. “As crianças precisam de vir para a rua, para espaços abertos e os clubes podem permitir isso. É bom têlos a partilharem o colectivo e a fazerem novas amizades.”
“Defendo uma pirâmide para as nossas crianças: a família educa, a escola forma e os clubes dão a escola da vida. Somos nós, aqui, que muitas vezes apoiamos os jovens quando algo não corre bem em casa. Nós temos que ser fundamentalmente um porto de abrigo. O clube é uma segunda família”, salienta, reforçando que no ACS “não há cor, não há raça, há pessoas e as pessoas é que são fundamentais na vida”. “Além de querermos formar atletas queremos formar homens para a vida”, assegura.
Com dois campos para andebol de praia, o ACS pretende ter uma equipa no próximo ano, algo que não sucedeu este ano devido à pandemia. “O objectivo é fazer uma evolução no andebol de praia, não só em termos quantitativos, mas também qualitativo e continuarmos a alimentar esta ideia de que somos o único clube com campos de andebol de praia dentro da cidade”, destaca.
Para José Maria Querido, o ACS “nunca foi, não é e não será um clube de andebol”. “É isso, mas tem de ser muito mais. O que pretendemos, e que vamos alimentando, é trazer mais atividades para aqui, como o ensino da música ou teatro de rua, criando parcerias”, e até criar um concerto de música no areal.
Perante a pandemia, José Maria Querido prefere não fazer “muitas conjeturas”, desconhecendo o que vai acontecer. “Temos mais ideias para arrancar em Setembro, mas ainda não sabemos como vão correr as coisas.”
O bom filho a casa torna
José Maria Querido está na fundação do andebol no Atlético Clube da Sismaria (ACS). Foi atleta, dirigente, motorista e até presidente, lembra, ao afirmar que esteve depois afastado cerca de 25 anos, com um pequeno interregno. Com um vazio directivo, um grupo de associados e simpatizantes do clube da Estação desafiaram-no a assumir uma equipa para garantir os destinos do ACS.