As primeiras provas-ensaio iniciaram-se esta segunda-feira como um teste à capacidade de resposta das escolas e para permitir aos alunos a experiência com as avaliações digitais, modelo que o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) pretende adoptar.
Na Escola Básica e Secundária Henrique Sommer, na Maceira, o primeiro dia decorreu sem incidentes. Na segunda-feira, todos os alunos realizaram a prova Português nos computadores disponibilizados pelo estabelecimento de ensino, na sala onde habitualmente são dadas aulas de Tecnologias da Informação e Comunicação ou Multimédia (cursos profissionais).
Bernardo Caetano, Eduardo Caetano e Margarida Carvalho admitem a “pressão” que sentiram para fazer a prova em 45 minutos.
Apesar de terem nascido numa época digital, onde o telemóvel e os computadores dominam o seu dia-a-dia, estes alunos do 9.º ano defendem que a prova poderia ser mista: escrita à mão e no computador.
Uns consideram que ler em papel é mais fácil do que no ecrã, outros desconcentram-se com o barulho de vários alunos a teclar na sala. Confessam que não conseguiram rever a prova por falta de tempo e lamentam que a preparação tenha sido feita “em cima da hora”, desconhecendo a matéria.
Um medo assente na autonomia das escolas que lhes permite gerir o currículo ao longo do ano, pelo que há matéria que não é leccionada ao mesmo tempo em todas as escolas.
No entanto, consideram que foi “um bom ensaio para as provas”, porque não estão habituados a fazer testes no digital.
Destinadas aos 4.º, 6.º e 9.º anos, as provas-ensaio são obrigatórias em todas as escolas, que terão autonomia para decidir se o resultado dos testes digitais contará para nota. Jorge Bajouco, director do Agrupamento de Escolas (AE) da Maceira, assegura que a nota destas provas- -ensaio só terá peso na avaliação dos alunos se não os prejudicar.
Neste agrupamento a preparação foi realizada ao milímetro, como se de um exame nacional se tratasse.
Os alunos da escola-sede utilizam os computadores da escola e haverá sempre equipamentos de reserva para responder a uma avaria súbita. Nas várias escolas do 1.º ciclo, um docente estará em prontidão com portáteis e tablets suplentes.
A sobrecarga da internet é sempre um receio, admite Jorge Bajouco, mas a ligação à rede por cabo procura diminuir o risco de quebra. “O espírito destas provas-ensaio é mesmo a formação, a experiência, mas gerir todo o processo tem sempre complexidade”, adianta Jorge Bajouco.
Rosa Vigarinho, adjunta da direcção, acrescenta que a realização destas provas durante o tempo de aulas é um desafio maior. É necessário recrutar professores para a vigilância, ao mesmo tempo que são necessários para continuar a leccionar as aulas para os restantes alunos.
A situação complica-se no 1.º ciclo, onde existem turmas mistas em algumas escolas. Numa sala onde um professor tem uma turma de 3.º e 4.º anos é preciso uma gestão ainda mais sublime para que os alunos do 4.º ano façam as provas-ensaio e os do 3.º ano tenham aulas normais.
No entanto, Jorge Bajouco procura centrar-se nas soluções e em dar resposta aos desafios do futuro. “Por muita resistência que possa existir, não há volta a dar: as políticas educativas na Europa apontam neste sentido. Os responsáveis do IAVE [Instituto de Avaliação Educativa] já alertaram em reuniões que Portugal está a ficar na cauda da Europa, pelo que precisamos acompanhar a realização de provas digitais”, sublinha.
Assegurar a equidade
Na segunda-feira, no Agrupamento de Escolas de Colmeias as provas do 6.º ano decorreram com normalidade e na terça-feira, dia em que o JORNAL DE LEIRIA esteve com uma turma do 4.º ano, verificaram-se quebras de rede pontuais, nada que não tivesse sido resolvido no imediato.
As opiniões dos alunos Afonso Simões, Carminho Lopes e Iuri Barroso dividem-se quanto às provas em formato digital. Uns preferem em papel, outros no computador.
Consideram que “demora mais tempo a realizar as provas” porque têm de ‘teclar’ em vários locais. “A internet estava lenta e tivemos de ficar à espera. Houve computadores que foram reiniciados”, contam.
Ao contrário dos colegas mais velhos da Maceira, o escrever no teclado não os incomoda e não se distraem com o facto de a prova ser digital. Do ‘alto’ dos seus 9 e 10 anos, concordam com as provas-ensaio, acreditando que os preparará para o verdadeiro teste: o MoDa (Monitorização da Aprendizagem). “Ficamos com mais confiança por saber como funciona”, explicam.
Também no AE de Colmeias a preparação destas provas foi realizada ao detalhe. Procuraram garantir que havia computadores para todos e routers no 1.º ciclo para as eventuais falhas de internet. “Procurámos que não se perturbasse o normal funcionamento das aulas, que continuam a decorrer”, assume a adjunta da direcção Tânia Febra, que admite desconhecer como se comportará a internet quando todos os alunos realizarem as provas ao mesmo tempo, uma vez que neste ensaio as escolas tiveram liberdade para as calendarizar.
“Se nos focarmos na perspectiva dos alunos, esta prova contribui para agilizar as próximas que serão reais. Se o objectivo for testar a real capacidade da escola em termos de rede, equipamento informático e logístico, tal só é possível de perceber com todos os alunos a realizarem as provas ao mesmo tempo”, afirma a sub-directora Cláudia Lopes.
Segundo explica, o agrupamento reuniu diferentes computadores para poder responder a eventuais falhas, sobretudo, nas escolas do 1.º ciclo. “Queremos que a equidade esteja assegurada e que todos tenham computador, mesmo sendo possível fazer em tablet.”
Jorge Sousa, professor do 1.º ciclo nas Colmeias, garante que a escola está precavida para as falhas digitais. Foi dado um router a cada aluno com uma password individual para que o sinal não se perdesse, aponta, ao sublinhar que passou uma mensagem de tranquilidade aos pais e aos alunos para que não houvesse pressão. “São provas de ensaio que fazem sentido para percebermos as situações que correm menos bem e podermos aperfeiçoá-las.”
Provas a sério