Esta quinta-feira nos dados do documento Índice de Pobreza Multidimensional apresentado pelas Nações Unidas pudemos ler que cerca de 1,3 mil milhões de pessoas como nós vivem na pobreza. Portugal contribui com mais de dois milhões de pessoas nesta situação, o que cobre de vergonha cada um de nós.
Confesso que a mim a pergunta – o que posso eu fazer para evitar tanta pobreza? – me tem perseguido quase ao longo da minha existência e foi no período da minha vida de professora, na escola pública, que mais oportunidades encontrei para, com ações concretas, lhe ir respondendo.
É que, situando-se numa má educação uma das causas mais geradoras de pobreza, sempre me obriguei, nas escolas por onde passei, a educar cidadãos e não apenas a instruí-los. Assumo que até ao final da minha carreira sempre me senti a lutar contra a corrente dominante, uma vez que, quase todos, na cadeia hierárquica do sistema educativo, me quiseram obrigar a ter apenas como missão o instruir alunos para ingressarem num curso superior.
Claro que eu resisti porque considero que, se assim procedesse, estava a desrespeitar o meu dever de na escola pública tudo fazer para quebrar os ciclos de pobreza que se instalam, de geração em geração, em famílias de muitas das crianças que tinha nas minhas turmas.
E de propósito me referi como uma das principais causas da pobreza a uma reduzida educação e não a uma reduzida instrução, porque entendo que a mera instrução não prepara qualquer indivíduo para o exercício de uma cidadania ativa, que vise a construção de uma verdadeira sociedade democrática, que ultrapasse a formalidade que a carateriza e vá mais longe, até à progressiva concretização de um fim: uma maior igualdade jurídica, social e económica.
A este propósito um exemplo: se em Portugal é consensual todos querermos que se erradique a pobreza, já o mesmo não acontece quando se fala que são as desigualdades na distribuição do rendimento uma das principais causas [LER_MAIS] dessa pobreza.
Ora, é para mim claro que na escola a discussão destes assuntos também deve ter lugar. Dando a liberdade ao outro para discordar, como posso pôr todos a pensar no assunto? Como posso ter cidadãos a pensar a vida se na escola a vida se resume à memorização de matérias e procedimentos com elas relacionados?
Um exemplo de uma ótima instrução e de uma péssima educação são as opiniões favoráveis à eleição de Jair Bolsonaro que portugueses jovens, com a escola toda e até com formações superiores, registam nas redes sociais! Como podemos ansiar pela erradicação da pobreza se pensarmos como esses: que os pobres o são por vontade própria e que tal resulta exclusivamente de uma sua decisão?
Felizmente, observo no princípio de base humanista que orienta o documento “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória” e na possibilidade de tornar mais flexível o currículo, ambos documentos do atual Ministério da Educação, uma possibilidade de combater a pobreza.
Ainda bem! Para mim o agir contra os vários tipos de pobreza, seja ela de coisas materiais ou de valores éticos ou morais é, na Educação, uma prioridade.
*Professora
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990