Vários temas que já tinham surgido, ora se misturam ora surge algum que se destaca, mas que logo é abandonado. Porque provavelmente não terá interesse, porque certamente já foi escrito algo semelhante, porque, porque … Decididamente não sai nada que verdadeiramente me satisfaça.
Não fora o compromisso assumido, e desistiria, enviando ao JL uma qualquer justificação para a ausência do texto. Esta situação faz-me lembrar a conversa tida há pouco tempo com um leitor a quem confessava a minha dificuldade em escrever, e em me libertar do texto acabado que, também por isto, acaba por ser finalizado na “25ª hora”.
Na sequência da conversa, sugeria o leitor a publicação dos meus textos na internet para mais ampla disponibilização, uma vez que a tarefa da escrita estava já cumprida, e apontava a importância do compromisso na realização como tema a glosar. E assim é, de facto, em muitos aspetos da vida.
Muitas das tarefas que realizamos no dia a dia só acontecem porque existe um compromisso (mesmo que seja apenas por palavra dada, ou por decisão pessoal assumida). Enquanto profissionalmente ativos desenvolvemos um conjunto de atividades diárias, em horários previamente definidos; cumprimos um conjunto de compromissos familiares, relacionais e pessoais porque a isso estamos vinculados.
Assumimos como um dever, aceitamos como uma obrigação a maioria das coisas que realizamos. Naturalmente que precisamos sempre de algum retorno, quer porque dependemos desse retorno, quer porque esse retorno positivo (reconhecimento, elogio, valorização…) nos permite estabilizar ou aumentar os comportamentos implicados na realização.
[LER_MAIS] Crianças, adultos desempregados, reformados, constituem grupos de cidadãos com baixo nível ou quase ausência de compromissos e responsabilidades de realização (que ainda não temos ou que já não temos ao nível da responsabilidade familiar, educativa, relacional; do emprego, e da multiplicidade de compromissos/tarefas enquanto cidadãos ativos…).
Se a criança, mesmo deixada livremente, continua “comprometida” com as tarefas do seu desenvolvimento, os adultos poderão tender a fugir do compromisso não arriscando sair da sua zona de conforto (ainda que este se torne limitativo e desconfortável).
Realizar significa não apenas fazer o que deve ser feito, mas fazê-lo o melhor possível, quando é suposto ser feito, num tempo aceitável para a sua realização. Porém, alguns de nós tendemos a adiar, postergar, protrair, delongar, demorar, termos apresentados como sinónimos do conceito procrastinar.
A procrastinação estará ligada à ausência de verdadeira motivação para a realização, porventura associada a experiências pobres: no assumir de responsabilidades e compromissos; no desenvolvimento da autoconfiança; na autodisciplina; no reconhecimento explícito dos outros face às nossas realizações.
E sublinho que este reconhecimento é sempre importante já que funciona como fator de motivação acrescida.
Psicólogo clínico
Texto escrito de acordo com a nova ortografia