Os ovos de produções alternativas (galinhas no solo e ao ar livre, em vez de gaiolas) estão a conquistar a preferência dos consumidores e a levar as empresas a investir nestes métodos de produção, que nalguns casos já representam parte significativa das vendas.
A propósito do Dia Mundial do Ovo, comemorado na semana passada, fomos perceber a importância desta actividade, que em Portugal mobiliza cerca de 90 produtores e de 60 embaladores.
No ano passado foram produzidas 126 mil toneladas de ovos, contra as 99 mil de 2012.
Não há dados recentes sobre quanto vale actualmente a produção de ovos em Portugal, mas Paulo Mota, presidente da Associação Nacional dos Avicultores Produtores de Ovos, adianta que a percepção de quem está ligado à área é que o valor económico da actividade rondará os 300 milhões de euros.
Em 2017, de acordo com dados do INE citados num estudo do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral do Ministério da Agricultura, esse valor era de 175 milhões de euros.
As questões do bem-estar animal já obrigaram os produtores a “fazer investimentos significativos” nos últimos anos, tendência que deverá continuar, afirma o presidente da Anapo, sediada em Pombal.
O dirigente aponta ainda, como desafios do sector, a sustentabilidade ambiental e a mudança para métodos alternativos de produção.
Além da “pressão para a mudança para modelos de produção que não são necessariamente melhores do ponto de vista do maneio e da segurança alimentar, mas que implicam custos acrescidos de produção e investimentos tremendos”, José Neves, da Ovopor, aponta outras situações que geram preocupação.
[LER_MAIS] Uma delas é a “escalada brutal dos custos de produção (matérias primas alimentares, energia, materiais diversos); outra, a “dificuldade (para não dizer impossibilidade) de reflectir os aumentos de custos nos preços de venda”.
Aquela fonte da empresa dos Milagres, Leiria, uma das maiores produtoras de ovos na região, menciona ainda as “dificuldades e exigências crescentes em termos legislativos e de licenciamento”.
A Ovopor tem uma capacidade instalada de cerca de 230 mil galinhas em postura, distribuída por oito pavilhões em duas explorações (Milagres e Urqueira, no concelho de Ourém). A capacidade de produção é de 180 mil ovos/dia.
Todas as galinhas são criadas em gaiolas (modelo de produção 3), mas é expectável que na próxima década a empresa realize “bastante investimento” na parte avícola, “em especial com a adaptação de pelo menos uma parte da produção para os modelos de produção 2 (galinhas no solo) ou 1 (galinhas no solo com acesso ao ar livre).
A Companhia Avícola do Centro (CAC), na Bidoeira, Leiria, é a maior empresa do ramo na região. Tem actualmente um efectivo de 2,25 milhões de galinhas poedeiras, distribuídas por 44 explorações em vários pontos do País. Movimenta 600 milhões de ovos por ano.
A marca de ovos de produção ao ar livre “tem vindo a afirmar-se como âncora da CAC, registando, desde 2012, crescimentos anuais superiores a 30%”.
Este ano a produção deverá atingir os 78 milhões de ovos desta marca, que “tem contribuído para mudar as tendências de consumo e consolidar o conceito da produção ao ar livre”, aponta a empresa.
Em entrevista recente ao JORNAL DE LEIRIA, Manuel Sobreiro, presidente do Conselho de Administração, apontava igualmente a “subida exponencial do preço das matérias-primas” como um dos maiores constrangimentos do momento.
“Estamos a falar de 10% a mais nos custos de produção, que não se reflectiu ainda nos preços, por uma razão simples: a pandemia provocou um excesso de oferta de ovos, porque o canal Horeca deixou de comprar”.