A Inovcluster – Associação do Cluster Agroindustrial do Centro e vários parceiros deram mais um passo na criação da marca Queijos do Centro de Portugal cujo fim é a valorização da fileira dos queijos com DOP (Denominação de Origem Protegida) com a formalização do contrato de consórcio Estratégias de Eficiência Colectiva (EEC) do Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos (PROVERE).
A aposta passa por melhorar a divulgação, o marketing e os processos de internacionalização através de inovação e de processos, do Queijo da Serra da Estrela, do Queijo da Beira Baixa e do Queijo Rabaçal.
Estas medidas, bem como a afirmação da identidade regional, serviriam, com base nestes produtos endógenos e DOP, para o desenvolvimento e sustentabilidade económica, social e ambiental de territórios de baixa densidade e de matriz rural.
No entanto, no caso do Rabaçal, cuja zona demarcada tem epicentro no concelho de Ansião, no distrito de Leiria, e Degracias e Pombalinho, no munícpio de Soure, no distrito de Coimbra, as medidas podem chegar tarde.
Embora as queijarias locais continuem a produzir queijo DOP, os produtores de leite certificados dizem que não aguentarão muito mais tempo.
Contactados pelo JORNAL DE LEIRIA dizem que, até agora, a marca Queijos do Centro de Portugal “nada” lhes trouxe.
Confrontados com custos de produção cada vez mais altos e preços por litro de leite que não sofrem alteração há anos, alguns estão a livrar-se dos rebanhos, enquanto outros estão a transferir a actividade para zonas do País onde a matéria-prima é paga a preço superior, como, por exemplo, Palmela, onde se produz o famoso Queijo de Azeitão.
“Aqui, o Queijo Rabaçal é para morrer”, resume, com tristeza, um proprietário de rebanhos, adiantando que, na zona demarcada da Serra de Sicó, o litro de leite cru é pago a 1,5 euros, enquanto, em Palmela, chega aos 2,40 euros.
“Comparativamente, ganho menos 250 mil euros, por ano, com o mesmo tipo de leite”, conclui.
O valor de venda ao consumidor do produto preparado também reflecte esta diferença. Se o preço por quilograma do Queijo de Azeitão chega aos 32 euros, o Rabaçal fica nos 16 euros.
“O nome Rabaçal vende, é nobre e tem peso no mercado, mas como não se aposta na sua divulgação… A Terras de Sicó deveria pegar nisto com unhas e dentes”, resume o mesmo produtor.
Do lado das queijarias, a marca Queijos do Centro de Portugal também demora a produzir um impacto.
“Vejo potencial na publicitação do queijo e acredito que irá mexer no turismo”, diz Fátima Carvalho, gerente da Prado da Sicó, queijaria de Santiago da Guarda (Ansião), multipremiada no concurso “Queijos de Portugal”.
A responsável afirma que é urgente uma alteração ao caderno de encargos do Rabaçal DOP para que este passe a ser considerado um queijo semi-duro, de modo a responder à evolução tecnológica e aos gostos do público.
Actualmente, o Rabaçal tem um longo tempo de cura obrigatório, que o deixa rijo, quando boa parte do público o prefere amanteigado.
Enquanto isso, os produtores de leite vão desaparecendo, incapazes de fazer frente aos custos de produção.
“Neste momento, em toda a região demarcada, há apenas quatro produtores de leite cru certificado para a produção do Rabaçal”, alerta Fátima Carvalho.
Porto de Mós pondera certificação
Embora, no concelho de Porto de Mós, mesmo no coração das Serras de Aire e Candeeiros, existam vários produtores de queijo, a maioria são de pequena dimensão.
A única unidade de produção já com um tamanho considerável está situada na freguesia de São Bento, um território de baixa densidade, identificado no Programa Nacional para a Coesão.
“Não temos uma marca ou uma DOP que represente as Serras de Aire e Candeeiros”, admite Eduardo Amaral, vice-presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós.
Na sua maioria, os queijos da região são de pequena dimensão, feitos a partir de leite de vaca, de cabra e da mistura de ambos.
Mas esta situação não impede a autarquia de estar a “namorar” os produtores, para avançar para um empreendimento regional de maior fôlego.
“A maioria ainda assenta em moldes muito tradicionais. Mesmo assim, estamos a avançar com um projecto de certificação de produtos locais endógenos. O avanço é lento, pois os requisitos precisam de ser mais elaborados”, admite o autarca.