O Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, será amanhã um dos três palcos – e último – da quinta edição do programa Território, da responsabilidade dos Estúdios Victor Córdon, que serve de plataforma para o início de carreiras, integrando anualmente 12 jovens bailarinos oriundos de escolas de dança de todo o País.
Território aproxima os participantes da diversidade estética que caracteriza a dança na actualidade, contribuindo para a “construção de um olhar diverso e inclusivo” e destina-se a jovens entre os 14 e os 18 anos, à data da audição. O projecto permite “um contacto directo com aquilo que é o mundo profissional”.
Os jovens “são tratados como profissionais, são ensaiados por grandes nomes da coreografia universal e têm um ritmo de trabalho de um profissional durante um mês”. “Quando trazemos estes jovens e lhes damos este contexto profissional, eles clarificam muitas coisas que de outra forma só iriam clarificar anos mais tarde”, explica Rui Lopes Graça, coordenador dos Estúdios Victor Córdon.
O programa Território nasce a partir da “grande evolução” que o ensino da dança teve em Portugal, nos últimos dez a 15 anos, com a proliferação de escolas por todo o País. “A nova geração de professores começou a ter uma preocupação com um ensino de qualidade e em muitas dessas escolas começaram a surgir jovens bailarinos muito dotados e com muita capacidade para um reportório variado, diversificado, com muitas linguagens, que é a actualidade das companhias de mainstream por todo o mundo”, afirma Rui Lopes Graça, ao salientar que os bailarinos de hoje “têm de ser versáteis, capazes, multitask, multi-linguagens e não apenas focados numa estética”.
Para mostrar o lado profissionalizante de um bailarino, o responsável entendeu criar uma plataforma criativa, que se dedicasse ao apoio à comunidade artística independente e a dar oportunidade aos jovens de mostrar o seu talento e definir o seu futuro. “Podem perceber se querem mesmo ser bailarinos profissionais”, reforça.
Desde há cinco anos que dezenas de jovens disputam um lugar para o programa Território. Leiria já teve representantes, mas este ano ninguém tentou a sua sorte. Rui Lopes Graça adianta que, para esta temporada, candidataram-se mais de 70 bailarinos de 27 escolas de todo o País. Um júri externo escolheu as 12 melhores audições. “A partir desse momento tudo o que fazemos por eles é gratuito. É uma oportunidade para estarem com coreógrafos de renome. Todo o investimento é dinheiro que vem da Cultura para a formação complementar de jovens bailarinos”, revela.
Na quinta edição do Território, o grupo estreou- -se no Teatro Nacional de São João, no Porto, depois actuou no Festival Ao Largo, em Lisboa, e amanhã, dia 29 de Julho, os 12 bailarinos sobem ao palco do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria.
“A escolha de Leiria está relacionada com a comunidade de escolas que existe na região e também com a proximidade a Coimbra”, justifica Rui Lopes Graça, ao acrescentar que um dos objectivos do programa é dar aos jovens a experiência de dançar em diferentes palcos.
Por isso, dançam num grande teatro, num festival ao ar livre, “onde há pessoas a distrair, carros a apitar, o que cria uma grande instabilidade”, e “num teatro de mais pequena dimensão”. “Isto é um treino, é saber adaptar- -se aquele espaço. Um bailarino profissional tem de conseguir dançar num espaço de dimensões diferentes”, salienta o também coreógrafo.
Os Estúdios Victor Córdon, são uma plataforma criativa pertencente ao Opart – Organismo de Produção Artística, que se dedica ao apoio à comunidade artística independente. “É preciso criar estas plataformas para que jovens talentos possam usufruir do mundo profissional. Muitos deles já têm uma grande maturidade, mas ter muitas capacidades técnicas em tenra idade não tem nada a ver com o trabalho de um profissional, com o ritmo de uma companhia, o mudar de reportório”, adianta.
O programa Território junta o coreógrafo catalão Marcos Morau (La Veronal) e a coreógrafa canadiana Dorotea Saykaly, vencedora da 1.ª edição do prémio Emily Molnar Emerging Choreography Award, em 2021.
A peça que subirá amanhã à noite ao palco divide- se em três ‘actos’: Sunken, uma nova obra de Dorotea Saykaly, Dentro, uma curta-metragem que resulta de uma parceria entre os Estúdios Victor Córdon e o InShadow Lisbon ScreenDance Festival, através da criação do Prémio Território | Estúdios Victor Córdon, para a categoria Melhor Realizador Nacional, e a remontagem Valse, de Marcos Morau.