Tem vindo a crescer de forma expressiva o número de pessoas que se encontram em situação de sem-abrigo na Marinha Grande, fruto da pandemia e da crise que se intensificou no último ano, denuncia a Associação Novo Olhar II (ANO II), que está a preparar um projecto para a criação de apartamentos partilhados, a nascer no novo Bairro do Camarnal.
Segundo Ana Patrícia Quintanilha, presidente da ANO II, a instituição contabilizou no ano passado 23 pessoas que se encontravam em situação de sem-abrigo. No passado mês de Julho, o número aumentou para 36. Deste grupo fazem parte sobretudo homens, portugueses, mas também alguns imigrantes de Leste, muitos com problemas de adicção, outros com perturbações psiquiátricas, mas também algumas pessoas que, não apresentando nenhum destes quadros, perderam os seus empregos e ficaram sem rendimentos, expõe a presidente da associação.
“Abrigam-se em casas devolutas e nalguns casos até com a autorização dos proprietários. Mas são casas que não reúnem as mínimas condições de habitabilidade, sem água, sem luz e com paredes a ruir”, explica Ana Patrícia Quintanilha, que lamenta o incidente que decorreu no passado fim -de-semana num destes imóveis devolutos e que vitimou mortalmente um dos sem -abrigo que estava a ser acompanhado pela associação.
Depois de ter inaugurado há cerca de um ano a Casa 22 no antigo Bairro do Camarnal, uma solução habitacional temporária,[LER_MAIS] onde os utentes são acompanhados na gestão doméstica, na procura de emprego e de habitação, cumprindo uma fase do seu programa de reinserção – espaço que aloja actualmente três pessoas – a ANO II está agora a preparar um novo projecto, de apartamentos partilhados, outra resposta para sem-abrigo. A candidatura do projecto a apoio financeiro já foi submetida a apreciação da Segurança Social.
Prevê-se que a Câmara da Marinha Grande fique responsável pela cedência das habitações, enquanto a ANO II assume a dinamização do projecto e o acompanhamento dos utentes, adianta Ana Patrícia Quintanilha. O protocolo de parceria entre o Município e a associação foi de resto aprovado segunda-feira, na última reunião de Câmara. O objectivo é albergar 15 pessoas, cinco em cada casa, explicou o executivo.
Incêndio fatal
Não resistiu aos ferimentos o homem que sexta-feira à noite foi transportado para o hospital, na sequência do incêndio que deflagrou na casa devoluta onde pernoitava, na Ordem, na Marinha Grande. A vítima, que sofreu queimaduras graves, foi transportada pelos Bombeiros Voluntários da Marinha Grande para o Hospital de Santo André, em Leiria. Posteriormente, foi transferida de helicóptero para o Hospital de São José, em Lisboa, onde viria a falecer. O caso foi acompanhado pela Polícia Judiciária, que esteve no local da ocorrência.
O indivíduo de 55 anos, sem-abrigo, com problemas ligados ao alcoolismo e alguma debilidade mental, era utente da ANO II há cerca de dois meses, onde beneficiava de apoio alimentar e higiénico. Segundo a presidente da instituição, este tinha recusado ser enviado para um abrigo, pois só admitia viver na Ordem, de onde era originário. “A nossa casa não tem vagas. Por isso, estávamos a ver se conseguíamos arranjar-lhe uma habitação social naquele local.”