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Home Sociedade

Psiquiatria: viver a doença com liberdade e humanismo

Maria Anabela Silva por Maria Anabela Silva
Janeiro 3, 2019
em Sociedade
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Psiquiatria: viver a doença com liberdade e humanismo
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Mal o motor do carro se cala, Sérgio assoma por detrás da casa. Vem em passo acelerado. Mãos no bolso. No rosto, um sorriso genuíno e contagiante, que manterá ao longo do tempo em que durará a visita das técnicas que integram o PsiCom, um projecto de psiquiatria comunitária que arrancou este ano no Centro Hospitalar de Leiria (CHL).

“A injecção é só no dia 21”, atira Sérgio, em direcção à enfermeira Luísa Bicker que, há mais de dez anos, percorre o mesmo caminho que naquela manhã de Dezembro a equipa do PsiCom fez, para lhe aplicar um antipsicótico injectável.

Esquizofrénico e com défice cognitivo, Sérgio transporta consigo um vasto historial de internamentos. Durante anos, a sua vida dividiu-se entre a unidade de agudos do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Leiria e a casa que partilhava com a avó, que deixou de ter condições para cuidar dele.

Passou depois pela unidade de psiquiatria dos Andrinos. Aí, estava seguro, protegido, tratado, mas faltava-lhe a liberdade que tanto preza. A liberdade de passar o dia em cima da bicicleta, mesmo que o tempo esteja chuvoso ou que o frio se entranhe pelo corpo.

“O Sérgio é feliz a andar de bicicleta”, conta Andreia Tarelho, uma das duas psiquiatras que integram o projecto. Não acompanha todas as visitas – “o médico vem quando há necessidade de avaliação”, explica -, mas reconhece as vantagens de ver o doente fora do ambiente “hermético” da consulta.

“No local, percebemos a realidade em que vivem, como interagem. O ambiente à sua volta diz muito do seu estado mental”, nota a psiquiatra, que defende que “o doente mental grave tem direito a viver a vida que escolher, desde que se garanta que está seguro e que tenha o apoio da comunidade”.

E Sérgio escolheu. Estabilizada a doença, regressou à aldeia. Vive na casa que herdou da mãe, mas, no dia-a-dia, conta com o apoio e a supervisão de dois tios que vivem por perto, do Centro Social e Paroquial de Souto da Carpalhosa, que lhe fornece refeições, e da equipa hospitalar. Vive sozinho, mas não está só.

Além da rede de apoio, conta também com a sua inseparável companheira, a bicicleta, que naquela manhã está parada, encostada a uma das paredes da casa. Quieta, mas por pouco tempo. Será, aliás, montado nela que Sérgio se despedirá da equipa até à próxima visita.

Ao abrir a porta, os primeiros elogios e incentivos do dia, pela voz da assistente social. “Temos melhorias”, diz Célia Bonifácio, que parece ignorar as beatas espalhadas um pouco por toda a casa. Em cima da mesa, há fruta fresca, que a tia lhe trouxe, e o que sobrou do pequeno-almoço.

O ambiente é frio, mas Sérgio não se queixa. Acorre, feliz, a apontar para o esquentador novo. “Tenho água quente”, diz, voltando-se para a assistente social, que já está indicada para ser a sua terapeuta de referência. Virá todas as semanas e ficará responsável pela gestão do cuidados ao doente, funcionando como elo de ligação entre ele e a rede de apoio.

“Treino” na organização da casa

Entre as missões da assistente social está o treino para a organização da casa. Naquele dia, a tarefa começa no quarto de Sérgio, onde há roupa amontoada no chão e beatas a cobrirem a mesa de cabeceira. Uma desordem que contrasta com a arrumação e a limpeza do quarto que foi da mãe, onde a cama está irrepreensivelmente feita. A de Sérgio também assim ficará no final da visita, tal como o seu quarto, onde tem início o “treino” daquele dia.

 [LER_MAIS] “Tu é que decides o que é para deitar fora ou não”, tranquiliza Célia Bonifácio, enquanto vai abrindo as gavetas para que ele faça a sua selecção. Por ele, guardava tudo, mas acaba por ceder e libertar- se de algumas coisas. “Isto é que não”, avisa, segurando na mão uma carta do Dragon Ball, a série de animação japonesa que fez furor nos anos 80 e 90 do século XX e da qual Sérgio é fã. Pega na carta e guarda-a, religiosamente, numa das gavetas, juntando-a a outras.

Passa, de seguida, ao sofá onde está uma pequena aparelhagem. Pergunta se alguém quer comprar Cds. Ninguém se mostra interessado no negócio, mas há quem pergunte se não lhes dá música. Sim, hoje também haverá música. O rap francês com que presenteou a equipa numa das visitas anteriores dá hoje lugar a Lady Gaga.

Será ao som da música do filme que retrata a vida da estrela americana que continuará a organização do quarto. Pacientemente, Célia Bonifácio ajuda-o a fazer a cama e ensina- o a dobrar um casaco, a escolher a roupa para lavar, a varrer e a limpar o chão.

“Tem de ser um trabalho constante”, frisa a enfermeira Luísa Bicker, que acompanha Sérgio há mais de dez anos, com a aplicação de antipsicótico injectável no domicilio, um trabalho que é feito no âmbito da consulta externa do CHL em articulação com o Serviço de Psiquiatria.

O injectável aos utentes é feito uma vez por mês, mas não serve apenas para lhes garantir a medicação e a estabilização da doença. É também um momento em que a enfermeira recolhe informações relativas, por exemplo, às condições de habitabilidade e ao relacionamento com a comunidade, que serão depois preciosas para a avaliação e o acompanhamento que é feito pela equipa

“A injecção abre portas a um campo muito mais vasto. Às vezes, só a maneira como nos abrem a porta, nos diz como vai a procissão”, conta a enfermeira, explicando que essas visitas “ajudam a perceber se o doente está ou não está estável”. São também momentos usados para “tentar lançar âncoras com a família e com os vizinhos para garantir alguma supervisão”. “O problema destes doentes é ficarem em roda solta.”

E, por conhecer tão bem Sérgio, Luísa Bicker afasta-se, várias vezes, do centro dos trabalhos. “Se vê muita gente à volta a dar indicações, descontrola-se.” Lá dentro, é dado por concluído o trabalho no quarto. “Já tem outro aspecto”, constata Sérgio, fazendo questão de levantar a almofada que, entretanto, recebeu uma fronha lavada. Debaixo dela está o pijama, devidamente, dobrado.

O sorriso de Célia Bonifácio transmite orgulho. Seguem os dois para a casa-de-banho, onde prosseguem os trabalhos que são dados por terminados com a limpeza do corredor. Por hoje chega. Mesmo que o sorriso continue no rosto, quem o conhece percebe que está a atingir o ponto de saturação. “Temos de saber o nível de tolerância”, alega a enfermeira.

Sérgio acaba por ainda limpar as beatas que se encontravam espelhadas no parapeito que separa a cozinha da sala. Dos isqueiros vazios é que não o convencem a livrar-se. Instado pela psiquiatra, explica como está a fazer a medicação, que se encontra espalhada sob a mesa da sala. Constata, por ele próprio, que se havia esquecido dos comprimidos da manhã, mas ainda vai a tempo e faz a toma.

Ao final de quase uma hora de visita, Célia Bonifácio não esconde a satisfação pelas conquistas desse dia. “O que fez hoje foi brilhante. Estou muito orgulhosa”, diz-lhe a assistente social, sabendo que, muito provavelmente, na visita seguinte, terá de voltar a fazer o mesmo.

“É um trabalho de paciência e de insistência”, reconhece enquanto se encaminha com Sérgio para ir levar o lixo ao contentor. É a última tarefa do dia. Sérgio fecha a casa, guarda a chave no bolso. No canto da boca, finalmente, o cigarro pelo qual há tanto ansiava. No rosto, o mesmo sorriso com que recebeu as técnicas. Monta a bicicleta. É daí que se despede da equipa. Acena e sorri. Voltará a sorrir na próxima visita.

 

Balanço

Mais de 160 consultas num ano

Ter o doente na comunidade “o mais estável possível”, “longe do internamento hospitalar”, é um dos objectivos do PsiCom, um projecto de psiquiatria comunitária que começou este ano a ser desenvolvido no Centro Hospitalar de Leiria (CHL). Constituído por duas psiquiatras, três a quatro enfermeiras e uma assistente social, o programa prevê diversas áreas de intervenção. Uma delas passa pela realização de consultas domiciliárias multidisciplinares, que têm como população alvo “doentes com quadros psiquiátricos graves com algum potencial de recuperação referenciados pelos diferentes intervenientes nesta parceria”, explica Cláudio Laureno, director do Serviço de Psiquiatria do CHL. Outra das vertentes do programa é a “intervenção em crise”, de forma a prevenir “uma maior deterioração de um episódio agudo”, evitando idas ao Serviço de Urgência e internamentos e promovendo “o acesso o mais precoce possível aos cuidados de saúde hospitalares se necessário”. O projecto completa ainda um programa de acompanhamento por terapeuta de referência, que fica responsável pela gestão dos cuidados de determinado doente na comunidade, e consultadoria psiquiátrica junto dos cuidados de saúde primários, para “fomentar a articulação entre as estruturas parceiras” e “evitar a utilização inadequada dos serviços de saúde”. Durante o ano de 2018, realizaram-se 53 consultas de intervenção em crise na comunidade, 114 consultas domiciliárias multidisciplinares e consultoria para a discussão de mais de 110 situações clínicas “complexas”.

Etiquetas: Leiriapsicompsiquiatria comunitária leiriasaúde mentalsociedade
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