O título pode parecer exagerado, mas esta é uma queixa frequente da parte de muitos alunos que manifestam dificuldade em manter-se concentrados nas aulas em que o método de ensino é apenas expositivo.
É por essa razão que os professores que utilizam outros recursos pedagógicos e que promovem a interacção têm mais sucesso junto dos estudantes.
“O tipo de aulas está mais virado para a memorização do que para a aprendizagem”, lamenta Inês Oliveira, 17 anos. Com a agravante, acrescenta, que as aulas são dadas a correr, para que os professores possam cumprir o programa. “Temos de decorar para passar nos testes, pelo que se nos perguntarem, no final do ano, o que demos no início do ano, provavelmente, não nos lembramos.”
Para a aluna do 12.º ano da Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria, o sistema de ensino está desajustado das necessidades actuais, por ser ainda demasiado teórico e pouco interactivo.
Destaca, em contrapartida, como bom exemplo terem assistido a um evento sobre o 25 de Abril de 1974, em que tiveram oportunidade de falar com alguns protagonistas. "Em quase todas as salas há quadros interactivos, mas são usados apenas para projectar powerpoints. Acho que nem sequer há canetas para eles”, lamenta Carolina Galvão, 15 anos, aluna do 10.º ano da Escola Secundária Engenheiro Acácio Calazans Duarte, na Marinha Grande.
Defensora da utilização das novas tecnologias em contexto de aula, diz que no estabelecimento de ensino que frequenta isso não sucede.
Escola antiquada
“Os professores têm uma certa idade e estão desmotivados, o que faz com que também estejamos desmotivados”, assegura. Crítica do método expositivo, a estudante da Marinha Grande diz que “os alunos não estão preparados para estar 90 minutos sentados a ouvir o professor falar, sem sequer mudar o tom de voz, e a passar coisas para o caderno”.
“A escola é muito antiquada, porque as aulas são iguais às que os nossos pais tinham no tempo deles”, afirma Carolina Galvão. “A única coisa que vi de novo foi a utilização de cartões [magnéticos] para entrar na escola.” Questiona, por isso, para que serviu um inquérito que fizeram aos alunos no início do ano lectivo em que lhes foi pedido para dizerem o que é que devia ser mudado na escola.
As críticas de Inês Oliveira estendem-se aos programas. “A matéria é muito vasta e não é proporcional ao tempo que temos para estudar”, sustenta. Nesse sentido, se fosse ministrada [LER_MAIS] Educação, tornava os programas menos densos e mais coerentes. “Por exemplo, a História não podemos aprofundar certas matérias, porque não temos tempo, mas há outras que não vão sair no exame e têm de ser dadas na mesma.”
Abolir exames e testes
E, por falar em exames, se a aluna da Rodrigues Lobo fosse titular da pasta da Educação, abolia-os. “Não acho que seja em duas horas que se vai perceber se os alunos sabem. Fico sempre extremamente nervosa e isso prejudica-me.”
Manuel Araújo, aluno do 9.º ano da EB 2,3 D, Dinis, em Leiria, vai mais longe. “Os testes são desnecessários porque se baseiam na nossa capacidade de memorizar, enão nas nossas capacidades, tirando Matemática, que se baseia no nosso raciocínio”, observa.
Considera ainda que os alunos não deviam ser avaliados apenas pelos seus conhecimentos, mas pela sua capacidade de resolverem problemas ou serem empreendedores. “O sistema de ensino em Portugal não é mau, mas tem de ser pensado não em função dos testes, mas para desenvolver as capacidades dos alunos.” Nesse sentido, defende que os conteúdos deviam ser alterados.
Para o aluno de 15 anos, a velocidade com que os professores têm de cumprir os programas constitui, por um lado, um obstáculo à aprendizagem e, por outro, não lhes permite aprofundar a matéria, como gostaria.
Refere ainda que nem sempre é possível cumprir as metas do Ministério da Educação, como sucedeu a Geografia, já que iniciaram o ano com o manual do 8.º ano e só depois de o acabar começaram a dar o do 9.º ano.
Mais intervalos
Carolina Galvão também gostava que fossem introduzidas alterações aos programas. “O programa de algumas disciplinas é muito puxado. Damos muita matéria numa só aula e acabamos por não conseguir aprender tudo”, explica. Considera, por isso, fundamental que as aulas sejam menos teóricas.
“Nas aulas de Economia, falamos muito de empresas, mas nunca visitámos nenhuma e isso era importante”, observa a aluna da Marinha Grande, que considera ainda que as aulas de 90 minutos deviam ter um intervalo, nem que fosse de apenas cinco minutos, ao fim de 45 minutos. “Na última meia hora, os alunos estão completamente estafados e isso prejudica o aproveitamento”, justifica.
Bianca Segismundo, 17 anos, anda no 2.º ano do curso de Técnico de Gestão Desportiva no Externato D. Fuas Roupinho, na Nazaré. Contudo, também identifica como uma das fragilidades da escola as aulas serem demasiado expositivas. “Nem todos os professores cativam os alunos. Chegam e despejam a matéria. Não interagem connosco e nem se importam se percebemos.”
Aulas na praia
A aluna da Nazaré considera fundamental existir interacção para que os estudantes percebam melhor a matéria e dá como bom exemplo um professor que dá algumas aulas na praia. “Quando é para trabalhar, é para trabalhar. Quando é para nos divertirmos, divertimo-nos todos.”
Adepta de trabalhos mais práticos, revela que, este ano lectivo, têm promovido mais actividades, porque propuseram aos professores serem avaliados através da organização de eventos, em vez de fazerem trabalhos.
Se tivesse oportunidade de mudar a escola, uma das medidas que Bianca Segismundo tomaria seria passar para sexta-feira a tarde livre de quarta-feira. “À sexta-feira à tarde, nem o melhor aluno está concentrado”, assegura.
Já para Laura Monteiro, 10 anos, a tarde livre devia ser a mesma para todos os alunos do 5.º ano para poder estar com as amigas de outras turmas.A aluna da EB 2,3 D. Dinis, em Leiria, considera que “a escola é uma seca”, por haver poucas actividades.
“Quando houvesse feriados, a escola podia organizar coisas sobre o tema do feriado e quem quisesse ia”, sugere. E deixa como exemplo o 25 de Abril. Em relação às aulas, explica que há disciplinas de que gosta mais e outras de que gosta menos. Porquê? “Gosto mais das disciplinas em que os professores são bons, divertidos, a matéria é muito interessante ou temos mais actividades.”
Mandar piadas
Aluna do 9.º ano da Escola Básica e Secundária Dr. Pascoal José de Mello, em Ansião, Bianca Carvalho diz que, de uma forma geral, os professores explicam bem a matéria e a relação com os alunos é boa.
Mas, é claro, as características do professor e a matéria influenciam o interesse dos alunos. “Também apanhamos secas e ficamos com a cabeça no ar”, admite. Apesar de alguns utilizarem powerpoints e vídeos para dar aulas, Bianca Carvalho defende que podiam dar a matéria de uma forma diferente.
“Podiam criar momentos divertidos. Por exemplo, quando falassem sobre o corpo humano, podiam mandar umas piadas e, depois, voltávamos ao estudo”, sugere a aluna de 15 anos.
Bianca Carvalho acredita que, se aulas fossem mais práticas e usassem mais as novas tecnologias, seriam mais motivadoras, e dá como bom exemplo uma ocasião em que utilizaram o telemóvel para fazer um jogo na disciplina de Físico-Química.
Gostava ainda de fazer mais experiências a Ciências. “Enquanto os professores falam, estamos a ouvir, mas assim não ficamos com tanta memória das coisas.”