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Home Sociedade

Quando o povo é quem mais ordena, muitas causas têm um final feliz

Maria Anabela Silva por Maria Anabela Silva
Setembro 17, 2020
em Sociedade
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Quando o povo é quem mais ordena, muitas causas têm um final feliz
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Quando, naquele início de Novembro de 2018, Jairo Dias tropeçou num documento da Junta da Bajouca, com referência ao interesse de uma empresa para a prospecção de gás na freguesia, estava longe de imaginar que iria também começar ali a luta de uma vida. Sua e de toda uma população que, acabaria por se unir em torno de um objectivo comum: travar as pretensões para a pesquisa de hidrocarbonetos na freguesia.

De um lado, estava a Australis Oil & Gas, um gigante da exploração de petróleo e gás. Do outro, a população de uma pequena freguesia, com menos de dois mil habitantes, no concelho de Leiria. Um desafio de David contra Golias, do qual saiu vencedora não só a população da Bajouca e das povoações vizinhas, que também se associaram à luta, “mas toda uma região e o País, que se viu livre da prospecção de hidrocarbonetos”, frisa Jairo Dias.

O morador nota que a decisão que acaba de ser anunciada pela Australis, de não avançar com a pesquisa, representa também o fim destas pretensões em Portugal, uma vez que, dos 15 contratos assinados pelo Estado português, apenas estavam em vigor os das concessões de Batalha e Pombal.

“O fim das concessões foi uma vitória da população local. Se nada se tivesse feito, o desfecho seria seguramente outro”, afirma Jairo Dias, residente na aldeia de Bouça de Cá, a cerca de “500 metros” do local onde estava previsto um dos furos de prospecção. Recuando a fita do tempo, o morador recorda a reacção que teve ao ler o documento da Junta: procurar informação.

A autarquia “pouco sabia” e entre a população o assunto era “completamente desconhecido”. Em breve deixaria de o ser. Jairo começa a partilhar informação que ia recolhendo, com a ajuda de outras pessoas que, entretanto, se juntaram à causa. Poucos dias depois, realiza-se a primeira sessão de esclarecimento, que juntou perto de 500 pessoas.

Segue-se uma iniciativa semelhante na povoação vizinha de Monte Redondo, onde, a convite da presidente da União de Freguesias, estiveram representantes da Australis. Os argumentos que apresentam em defesa do projecto não convencem e a luta intensifica-se. As sessões de esclarecimento sucedem-se, a população marca presença em sessões de assembleias de freguesia e municipais, em reuniões de Câmara e em comícios políticos, em plena campanha para as legislativas, e promovem-se manifestações.

À causa, vão-se associado também os órgãos autárquicos, não só de Leiria, mas dos concelhos vizinhos, que assumem posições contra a prospecção, e deputados eleitos pelo distrito.

“Apesar de vários sectores da sociedade civil se terem posicionado contra, foi a mobilização colectiva local que juntou cidadãos e autarcas e mostrou ser determinante para o desenrolar deste processo, que culminou agora numa desistência por parte da Australis. Sem a mobilização local, o desfecho teria sido outro”, lê-se num comunicado do Movimento do Centro contra Exploração de Gás.

A contestação à prospecção de gás é um dos protestos de sucesso na região. Mas há mais. Ainda nos idos anos 70, a população de Ferrel travou a construção de uma central nuclear ao largo de Peniche.

Mais tarde, no últimos anos do século XX, a luta empreendida pelo Movimento Cívico Contra as Portagens do Oeste, liderado por Feliciano Barreiras Duarte, ex-secretário de Estado, e por Júlio Sebastião, já falecido, conseguiu garantir a isenção de portagens no troço da A8 entre Caldas da Rainha e Bombarral, uma decisão que ainda se mantém mesmo depois da introdução de pagamento nas ex-SUCT (auto-estradas sem custo para o utilizada).

Em Alqueidão da Serra, Porto de Mós, o protesto da população impediu a construção de uma central de asfalto, enquanto no Olival (Ourém) e em Albergaria dos Doze (Pombal) foi possível evitar a demolição de igrejas com origens seculares. Em Leiria, um movimento nascido em 2014 nas redes sociais conseguiu, em poucas semanas, aquilo que há anos era reclamado, sem sucesso, pelo poder político: a requalificação de um troço do IC2, com a colocação de separador central.

Mais recentemente, a população de Reguengo do Fètal, no concelho da Batalha, mobilizou- se e impediu a aprovação de uma nova exploração de pedra na freguesia, travando o projecto da designada pedreira da Barrosinha.

 

A luta de Ferrel contra o nuclear

(Foto: José Nascimento)

 

António José Correia, [LER_MAIS]ex-presidente da Câmara de Peniche, recorda, “como se fosse hoje”, aquele dia 15 de Março de 1976. Era segunda-feira e a manhã estava “fria”. Por volta das 7 horas, o sino da capela de Nossa Senhora da Guia soou a rebate. D. Crealmina, que era a zeladora da igreja, tocou sem cessar. Nem mesmo quando o badalo se desprendeu parou. Pegou nele e continuou a dar pancadas no sino.

A população da aldeia e das povoações vizinhas acorreu, em força, juntando-se no largo da igreja, armada com alfaias agrícola: forquilhas, enxadas, foices, sacholas, picaretas… Tudo servia para travar ‘o monstro’, como era visto o projecto para a instalação de uma central nuclear na aldeia.

“Ia chegando gente e mais gente, vinda de vários lugares de Peniche”, conta o ex-autarca, que era então um jovem estudante de economia, membro da comissão de moradores da localidade de Estrada, vizinha de Ferrel e director do jornal Arado, de Peniche, onde antes da manifestação tinha publicado vários artigos sobre a temática do nuclear. “Tinha acesso a documentos disponibilizados pelo movimento ecológico português e, como estudava e trabalhava em Lisboa, conseguia recolher informação de publicações francesas, onde o debate já se fazia há mais tempo.”

A multidão que acorreu ao largo da igreja marchou depois em direcção aos baldios de Moinhos Velhos, onde decorriam os trabalhos de prospecção com vista à instalação da central. “Uns iam de a pé, outros montados em tractores, carroças de burro e camionetas. O percurso, com cerca de três quilómetros, demorou mais de três horas”, recorda Joaquim Jorge, filho de D. Crealmina, já falecida. Conta que, quando chegaram ao local, encontraram “um capataz” a quem disseram que “era para parar tudo”.

“Havia alguns trabalhadores, que ficaram apavorados”, acrescenta. No meio daquela “tensão”, alguém deu a ordem: “Força, força! É partiressa m… já”. E partiram. De regresso à aldeia, houve quem trouxesse redes, paus e arame, que estavam a vedar o local onde decorriam as prospecções.

Os trabalhos pararam e nunca mais seriam retomados, mas a luta de Ferrel, imortalizada nos versos na canção Se tu fores ver o mar (Rosalinda), de Fausto, prolongou-se nos meses e anos seguintes. “Organizámos grupos que, diariamente, iam ao local para confirmar que as obras estavam paradas”, recorda Joaquim Jorge, que realça ainda o papel da Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça do Nuclear, criada depois do protesto, com a dinamização de sessões de esclarecimento e envolvimento na causa de especialistas nacionais.

Dez anos depois, o projecto era definitivamente abandonado. “A atitude das pessoas de Ferrel foi o pronúncio do envolvimento das populações nas questões da sustentabilidade ambiental”, diz António José Correia, convicto de que Peniche “não seria igual se a central tivesse avançado”.

População do Reguengo travou pedreira

Foi também por temer os impactos ambientais do projecto que, há um ano, a população de Reguengo do Fètal se levantou contra o licenciamento da designada Pedreira da Barrosinha, prevista para as proximidades do local de onde foi extraída a pedra para a construção do Mosteiro da Batalha.

Fernando Breda, um dos rostos da comissão especial de defesa criada para travar o processo, conta que os alarmes soaram quando, no final de Agosto do ano passado, recebeu um alerta de que o licenciamento estava em curso. “Foi um pouco por acaso, porque este tipo de procedimentos decorrem em plataformas online e, muitas vezes, passam despercebidos. Procurei mais informação e percebi que tínhamos de nos movimentar rapidamente antes que fosse tarde de mais”, recorda.

A informação começou a circular, também com a ajuda das redes sociais, e dias depois teve lugar uma assembleia popular que juntou mais 400 pessoas. Foi decidida a constituição daquela comissão, com o apoio de um advogado “dedicado a este tipo de causas”, de biólogos, historiadores e outros especialistas, que ajudaram a fazer um levantamento “a palmo” da zona onde iria ser feita a exploração.

“Para termos êxito, tínhamos de fundamentar muito bem as nossas posições”, alega Fernando Breda, frisando que houve também a preocupação de tentar evitar que a questão fosse usada como arma de arremesso político. A boa notícia chegou no final de 2019, com o chumbo do estudo de impacto ambiental.

Uma vitória que, no entender de Fernando Breda, se deve “muito à mobilização que rapidamente se gerou”, mas que “não deve fazer baixar a guarda” pela defesa do ambiente. “O processo da Pedreira da Barrosinha parou, mas existe um apetite voraz pela pedra da região e mantém-se uma pressão enorme sobre as entidades”, alerta.

Luta ganha pelo separador no IC2

Os acidentes no IC2, nomeadamente no troço que atravessa a zona de Leiria, eram uma constante. Mas foi quando a tragédia lhe bateu à porta, com a morte de uma amiga (Natália Duarte), a 17 de Outubro de 2014, dias depois de uma rapariga ter também falecido na mesma estrada, que Frederico Sousa decidiu que “era preciso fazer alguma coisa”, para exigir a construção de um separador central.

Em pouco tempo, estava decidida a forma de protesto: uma marcha lenta no IC2, marcada para o dia 26 desse mês. A mensagem espalhou-se, com apoio “fundamental” das redes sociais, de tal forma que, chegado o dia, a adesão ao protesto “surpreendeu todos”, desde a organização até às forças de segurança.

“À hora marcada, alguém da GNR pediu-nos para atrasar a marcha. Não estavam a contar com tanta gente e precisavam de mobilizar mais efectivos”, recorda Frederico Sousa, contando que, “quando o último carro estava a sair da rotunda da Grelha [final da A19], o primeiro já tinha chegado à Ponte da Madalena”, ou seja, 15 quilómetros mais à frente.

Perto de 400 viaturas circularam em marcha lenta no IC2, com paragem na Boa Vista e junto à ponte dos Marinheiros, para homenagear as duas vítimas mais recentes daquele que era então apelidado como o “troço da morte”. Reclamava-se a requalificação da via, com a construção de um separador central.

“Eu trabalhava como operador de controlo na Brisa e tinha conhecimentos na área. Desloquei-me à Alemanha para ver alguns separadores e tentar perceber o que seria viável para aqui. Enviei a informação para a Estradas de Portugal mas fui ignorado”, revela Frederico Sousa. A verdade é que, sete meses depois da marcha lenta, eram iniciadas as obras de construção do separador.

“A força popular conseguiu aquilo que os políticos não tinham conseguido até então. Talvez por esta ser uma causa que dizia muito não só aos leiriense mas a gente de todo o País”, afirma.

Contestação salvou igrejas em Ourém e Pombal

Há cinco anos, uma exposição de projectos para a freguesia, patente nas festas da paróquia, deixava antever um triste fim para a antiga capela de Albergaria dos Doze, no concelho de Pombal, encerrada ao culto desde 1964, quando foi inaugurado o novo templo.

A remodelação do largo da igreja, projectada pela Junta e pela Câmara, previa a demolição da capela, que duas décadas antes tinha sido restaurada e transformada em centro cultural, por iniciativa de um grupo de pessoas da freguesia. Entre elas encontrava-se Ricardo Vieira, que viria depois a envolve-se na discussão que acabou por salvar a antiga da demolição.

“Voltei a procurar a ajuda das pessoas que tinham estado connosco no restauro e usei a escrita, nomeadamente o facebook, para alertar para o erro que seria deitar a igreja abaixo. É o edifício com mais raízes históricas na freguesia. Remontam a 1566”, conta Ricardo Vieira, antropólogo e docente do Politécnico de Leiria, que acredita que, se não tivesse havido “movimentações”, hoje “o edifício estava no chão”.

O mesmo destino chegou também a estar traçado para a antiga igreja do Olival, em Ourém, cuja estrutura actual tem origens no século XV. A contenda, que se arrastou durante mais de 30 anos, opunha os defensores da demolição, onde se incluíam alguns moradores e o pároco local, e quem queria a sua conservação.

O diferendo foi resolvido através de uma consulta à população, realizada em 2000, com a maioria dos votantes a decidir-se pela recuperação. O restauro avançou e o edifício foi classificado como monumento de interesse público.

Desfecho diferente teve a antiga capela das Chãs, em Leiria, que, depois de muita polémica, acabou demolida, em 2015. Perante a vontade de uma parte significativa da população local, que era favorável à demolição, de nada valeram as posições de especialistas e de associações de defesa do património de fora da localidade e a igreja foi mesmo abaixo.

Etiquetas: bajoucacontestaçãoFerrelic2mobilizacao popularseparador
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